São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 1994 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Só a justiça pode salvar competição da bagunça
MARCELO RUBENS PAIVA
Cena 1: estava no boxe 14, do piloto Erasmo Boere, quando acompanhei a parada do Puma da equipe Linho Leslie, ao lado. Àquela altura, 1h30 de prova, o Puma de Alex Nunes e Jair Bana vinha bem, buscando o 14º lugar. Cena 2: após o reabastecimento e troca de pilotos, um mecânico joga água sobre o capô, para tirar restos de combustível. Antes de o piloto arrancar, outro mecânico abre o capô traseiro, onde está o motor. O piloto acelera. Uma faísca sai do motor. O fogo começa. Cena 3: o fogo se espalha pelo chão. Vem na minha direção e na do tanque de combustível do boxe 15. Pânico. Corro com o fogo chegando às minhas costas. Sinto cheiro de cabelo queimado. Cena 4: corre-corre entre mecânicos e penetras. Muitos ficam prensados no alambrado atrás dos boxes. Marcelo Coga, mecânico da Linho Leslie, como uma bola de fogo, pula e grita. Cena 5: Depois de uns trinta segundos, mecânicos dos boxes vizinhos apagam o fogo com extintores das próprias equipes. Passo a mão na nuca e tiro restos de cabelos queimados. O socorro chega tempos depois. Três mecânicos, Silvano Antunes, José Marcelino e Marcelo Coga, vão para UTI. Mecânicos brigam, trocam acusações. Fotógrafo da revista "Caras" quase é linchado por querer fotografar os feridos. Muda o clima do que era para ser o encontro de velhos amigos. Improvisação sempre foi a marca do automobilismo brasileiro, como a do mecânico José Alberto, da equipe Cordial, que surge correndo atrás dos boxes, vê uma tampa de uma lata de tinta e diz: "puta latinha gostosa". Corta um pedaço para servir de apoio ao pára-lama do Opala 26. Mas improvisação é mérito só de quem não põe a vida dos outros em risco. Numa prova com reabastecimento, supõe-se que haja um bombeiro treinado e equipado para cada boxe. Mas a preocupação da organização parece ser a de distribuir credenciais, lotando os boxes de representantes da indústria automobilística, seus familiares, garotas-propaganda, caçadores de autógrafo, socialites e até ambulantes. Um processo movido pelos feridos, contra os organizadores, resolveria o problema. Texto Anterior: Wilsinho e Christian vencem as Mil Milhas Próximo Texto: Dois banqueiros sobem ao pódio Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |