São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 1994
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Com saudades da linguiça de Bragança

MARCELO FROMER; NANDO REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os amantes do futebol, sempre com fome de bola apreciaram o delicioso couvert enquanto aguardavam, ansiosos, a chegada do prato principal: o Campeonato Paulista.
A Copa Juniores entrou em sua fase decisiva cumprindo sua tarefa: lembrar a todos que não precisaremos nos preocupar com a reposição de craques.
A desclassificação do Palmeiras nesta competição dá um alerta à sua diretoria e um leve motivo de preocupação à torcida do Verdão: enquanto a Parmalat abastece o time de profissionais com contratações milionárias, o verdadeiro Palestra ainda não demonstra auto-suficiência para revelar, em quantidade, seus próprios jogadores. A torcida gosta de saber que o futuro de seu time não depende somente do talento adquirido mas também do talento formado. Os bezerros de hoje é que darão o leite de amanhã.
Mas voltemos à vaca fria. A Copa-94, de certa maneira, poderia ofuscar os campeonatos regionais nesse primeiro semestre. Mas não o Paulista. Este, felizmente, não correrá esse risco. Pena que numa transação a Zé do Pipo, demos numa quentinha o Dener para o Vasco.
A questão é a seguinte: os jogadores, quando entrarem em campo, terão em mente que estarão disputando não apenas a simples vitória, mas também o passaporte para a Copa.
Os árbitros deverão entrar em campo providos de um par de olhos sobressalentes encravados na própria nuca para poder pensar duas vezes antes de apitar incorretamente qualquer infração ou penalidade. Não poderemos assistir a fuzarca que reinou nos campos comandada pelos indivíduos de fantasia preta. Alguns pênaltis escandalosos não poderão mais ser ignorados. A bandalheira que se instaurou no Brasileirão passado dessa vez não deverá se repetir.
Mas o fato é o seguinte: toda essa valentia, toda essa disposição heróica e spilbergiana poderá não valer mais que um antigo volante da loteca já conferido com doze pontos. E sabem por que? Porque o nosso técnico, na contra-mão do bom senso, provando que a sua teimosia não tem limites, declarou já ter definido o time titular para a estréia do Brasil. Para quem deveria ser um especialista em estratégia, o Teimoso pecou mais uma vez.
Está certo que um técnico precisa ter em mente um time-base para formar uma seleção, mas não seria melhor guardar para si essa escalação e deixar algumas vagas em aberto para aproveitar futuros destaques? A teimosia de Parreira pode vir a atrapalhar alguns jogadores que sabem, que por mais que comam a bola, talvez não tenham lugar na seleção.
O que será que o César Sampaio vai ter que fazer nesse campeonato para provar que não precisamos mais contar com a servidão de um Dunga? Precisará quebrar algum atacante ao meio e brandir a sua tíbia ensanguentada como um Excalibur tropical?
Que tal se o Teimoso viesse passar os primeiros cinco meses do ano em São Paulo? Poderia ver de perto porque o Brasil todo espera tanto da nossa seleção. Mandemos o Velho Zaga para o Velho Mundo para se certificar se realmente precisaremos de todos os nossos craques que estão no exterior. Que o nosso técnico então, longe de seu cônjuge, venha até São Paulo e esteja atento para que os jogadores, em campo, possam tentar dissuadi-lo de suas idéias arcaicas e estáticas.
Seja bem-vindo Parreira. Nós te convidamos para matar as saudades das linguiças de Bragança.
Com o Teimoso só faltam só faltam 143 dias para começarmos a perder mais uma Copa.

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