São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 1994
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Avanço de ex-comunistas freia reformas russas

JAIME SPITZCOVSKY
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE MOSCOU

O presidente Boris Ieltsin, ao diminuir a marcha das reformas econômicas, dobra-se diante de um fenômeno já anunciado por outros países em transição ao capitalismo. Polônia, Lituânia e também regiões orientais da Alemanha testemunharam, nos últimos dois anos, avanço eleitoral dos ex-comunistas. Motivo do sucesso: protesto da população contra as dificuldades impostas pelas mudanças.
Na Rússia, o resultado da eleição parlamentar de dezembro confirmou o movimento pendular. O embate entre o "radical" ministro da Economia, Iegor Gaidar, e o "moderado" primeiro-minisitro, Viktor Tchernomirdin, ganhou contornos mais claros. A balança pendeu para o lado de Tchernomirdin, um defensor da desaceleração das reformas e da revisão das prioridades governamentais.
Na semana passada, Gaidar renunciou. Quatro dias depois, Ieltsin anunciava o novo gabinete, para confirmar a vitória de Tchernomirdin. Entre os cinco principais cargos, apenas um, que controla as privatizações, ficou nas mãos de um "radical", o vice-premiê Anatoli Chubais.
Tchernomirdin, defensor de maior intervenção do Estado na economia, quer evitar o colapso de indústrias e fazendas coletivas alimentando-as com subsídios. Sob o comando de Gaidar, o Kremlin controlava com rigor seus cofres, para diminuir o déficit orçamentário e forçar as empresas criadas no regime soviético a se adaptarem à concorrência de uma economia de mercado.
A receita de Gaidar, inspirada em manuais ocidentais, eliminou o desabastecimento e estabilizou a cotação do rublo nos últimos semestres do ano passado. Mas os cortes nos subsídios agravaram a crise nas empresas, com aprofundamento da queda na produção industrial e do desempenho. Traçava-se assim o quadro favorável ao avanço da oposição.
Eleições
Durante a campanha eleitoral, Gaidar argumentava que não existe "cirurgia sem dor". Mas em entrevista ao jornal moscovita "Izvestia", ele avaliou que 25% dos 148,4 milhões de russos passaram a viver melhor, do ponto de vista econômico, com as reformas rumo à economia de mercado. A oposição, dos ultranacionalistas aos comunistas, aproveitou os outros 75% para amealhar seus votos.
Pressionados pela oposição, Ieltsin e Tchernomirdin buscam uma "política de proteção social da população", o que vai representar mais gastos para o governo russo e deve trazer, como consequência, um aumento das taxas da inflação.

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