São Paulo, sexta-feira, 28 de janeiro de 1994
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BM&F fecha acordo com os golpistas

DA REPORTAGEM LOCAL

A Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) fechou ontem acordo com Eduardo Conrado Ferreira e Duarte Ferreira Pena, donos da Finance, empresa que deu golpe de US$ 6,8 milhões na Bolsa –e não US$ 6,3 milhões, como vinha sendo divulgado. Pelo acordo, a BM&F recebe de imediato 40% da dívida em espécie (cerca de US$ 3,1 milhões), disse ontem o presidente da instituição, Manoel Pires da Costa.
O restante será pago em oito parcelas mensais corrigidas pelo IGP-M, acrescidas de 0,5% de juro. A primeira vence em 4 de fevereiro. Os envolvidos deveriam ser libertados ainda ontem. Vão responder em liberdade a processo por estelionato, se forem indiciados pelo Ministério Público. Segundo a polícia, nenhum deles tem antecedentes criminais.
Só Kleber de Oliveira Costa responderá (também em liberdade) por "falsificação de documento privado" (artigo 298 do Código Penal). Ele confessou a falsificação de duas cartas de fiança para os donos da Finance.
Os documentos foram usados na captação de recursos no mercado de opções da BM&F. O golpe foi descoberto na quinta-feira, quando o engenheiro e economista Rômulo Avellar tentava rolar a dívida inicial (de CR$ 3 bilhões) com nova carta de crédito, no valor de CR$ 10 bilhões.
O dinheiro a ser pago já será transferido pela Justiça à BM&F dentro de 48 horas. Ele decorre do bloqueio judicial das contas dos envolvidos no caso.
Os sócios ofereceram, sob forma de escritura pública, vários bens (imóveis, barcos, automóveis) como garantia para o pagamento do restante da dívida. O dinheiro irá recompor o fundo de assistência à liquidez da BM&F. A Bolsa recorreu ao fundo na segunda-feira, quando os empresários não honraram a dívida contraída no vencimento de opções do mercado de ouro.
O único envolvido no caso que ainda não havia comparecido à polícia se apresentou ontem pela manhã ao delegado titular do 1º DP de São Paulo, Pedro José Liberal. Trata-se de Flávio Castilho, gerente do Citibank em Belo Horizonte. Segundo o delegado, ele disse que sua única participação no caso foi apresentar Rômulo Avellar aos empresários –e não o falsificador Costa, como vinha dizendo Liberal.
Pela apresentação, Castilho recebeu cerca de US$ 100 mil de Avellar. O dinheiro se encontra aplicado em CDB em uma conta antiga, em outro banco. Essa quantia é aproximadamente um terço do que Avellar recebeu dos sócios da Finance para intermediar a negociação com a corretora paulista Interfloat. Costa também recebeu perto de US$ 100 mil da Finance para fornecer as cartas de fiança. Embora tivessem pago por elas, os empresários alegam não saber que eram falsas.
A BM&F suspendeu a Interfloat por tempo indeterminado. Segundo Pires da Costa, a corretora responde em última instância pelo eventual não-cumprimento do acordo firmado ontem. O presidente da Bolsa disse que cabia à Interfloat checar a validade das cartas de fiança.
A BM&F vai agora entrar em entendimentos com a corretora para ver se é possível recredenciá-la. Pires da Costa admitiu que "pode ter havido" falha na Bolsa, mas não soube explicar por que a instituição aceitou documentos falsificados. Disse que vai investigar.
O presidente da Bolsa argumentou que desde 1986, quando foi criada, a BM&F já movimentou 185 milhões de contratos. Esta teria sido a primeira vez que um documento falso passou pelo controle da casa.

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