São Paulo, sexta-feira, 28 de janeiro de 1994
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Scorsese filma a pureza perdida

MARCO CHIARETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Erramos: 28/01/94
Ao contrário do que está publicado, o filme "A Época da Inocência" não tem sua estréia nacional nesta sexta. O filme começa temporada hoje em São Paulo. A estréia no Brasil ocorreu na semana passada, no Rio.
Título: A Época da Inocência
Direção: Martin Scorsese
Quando: estréia hoje
Onde: Bristol, Lumière e circuito
Elenco: Daniel Day-Lewis (Newland Archer), Winona Ryder (May Welland Archer), Michelle Pfeiffer (Ellen Olenska)

"A Época da Inocência", de Martin Scorsese, estréia hoje no Brasil. É um filme de época, baseado em um romance de Edith Wharton. Newland Archer (Daniel Day-Lewis), sua noiva May Welland (Winona Ryder) e a prima desta, Ellen Olenska (Michelle Pfeiffer), encontram-se em Nova York, no início da década de 70 do século passado. O filme conta a história do amor de Newland por Ellen, do casamento de Newland com May, e da dolorosa ruptura de Newland com Ellen. Os amantes quase não se tocam, mas poucos filmes são tão sensuais quanto este. Há sensualidade na luz, na comida, na etiqueta, nas luvas.
A reconstituição das casas da aristocracia de Nova York, de suas festas, casas de veraneio, hábitos e costumes, é primorosa. Consumiu grande parte dos US$ 27 milhões que o filme teria custado, segundo Scorsese. As filmagens começaram em maio de 1992, e foram até fins de junho. A montagem durou um ano.
O resultado é perfeito em sua delicadeza e riqueza de detalhes. Newland é um jovem advogado nova-iorquino, apaixonado por May, uma moça linda e rica (como ele), de família tradicional (como ele), em uma Nova York em crescimento acelerado com o "boom" econômico posterior ao fim da Guerra Civil americana (1861-1865). Havia milhões de miseráveis nos EUA daqueles dias, mas eles não aparecem. Tudo gira em torno das paixões e dores de três seres humanos, metidos em uma sociedade onde tudo já está definido, tudo se sabe, e as convenções, regras e sutilezas são a essência da vida.
Newland não gosta do que vê. Considera-se instruído e sensível demais para ter de suportar os novos-ricos que infestam sua sociedade, e ético demais para aguentar a corrupção moral –e política– que esta sociedade encarna. Conhece Ellen, recém-separada, culta, inteligente e anticonvencional, na ópera. Não consegue mais tirar os olhos dela. Apaixonado, quase rompe o noivado, e depois o casamento, mas acaba ficando com May. Não sabe –ou não quer saber– que não decidiu nada, que tudo estava previsto, e que sua doce, ingênua, pura e quase infantil May tinha entendido muito melhor como roda a máquina do mundo. Era um inocente em uma época inocente. Um homem antiquado.

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