São Paulo, sexta-feira, 28 de janeiro de 1994
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Tônia ganha US$ 34 mil por workshop

HÉLIO GUIMARÃES
DA REPORTAGEM LOCAL

Tônia Carrero ganha US$ 34 mil por workshop
'Quem tiver mais de 40 anos bem-sucedidos de palco e 60 de idade pode me procurar que eu ajudo', diz secretário
O Diário Oficial do Município de São Paulo publicou em 24 de novembro do ano passado uma minuta sobre a liberação de CR$ 8,2 milhões para a atriz Tônia Carrero realizar um workshop no Centro Cultural São Paulo. O workshop, que durou três dias e cerca de seis horas, foi a solução encontrada pelo secretário Rodolfo Konder para liberar o equivalente, naquela data, a US$ 34 mil para a montagem do espetáculo "Ela É Bárbara", que Tônia Carrero protagoniza na sala Jardel Filho do Centro Cultural São Paulo desde o dia 1.º de dezembro.
"Era a forma de justificar a montagem", diz o secretário municipal de cultura, Rodolfo Konder, que diz ter ficado "comovido" com o pedido da atriz. "Eu vi aquela mulher que tem 40 anos de palco e decidi liberar o dinheiro", diz o secretário. "A princípio eu tinha o investimento de US$ 200 mil de uma empresa, mas baixou para US$ 40 mil. Eu não tinha como montar o espetáculo e procurei a secretaria", diz Tônia Carrero.
"Nunca se cobrou tão pouco para me assistir. Foi uma gentileza do Rodolfo", diz a atriz. Entre o primeiro encontro da atriz com o secretário e a liberação da verba transcorreram dois meses e meio. "Demoraram para liberar o dinheiro. Na verdade eu deveria pedir para corrigir o valor. Estou perdendo dinheiro, e bastante", diz a atriz, em cartaz no Centro Cultural até 11 de fevereiro.
A liberação do dinheiro não chegou a provocar protestos na classe teatral, mas causou mal-estar (leia depoimentos ao lado). O próprio secretário diz que foi várias vezes indagado sobre o critério para a liberação da verba para Tônia Carrero. "O critério é: quem tiver mais de 40 anos bem-sucedidos de palco e 60 anos de idade pode me procurar que eu ajudo", ironiza Konder.
"A gente vai à secretaria com projetos, é bem recebido e depois a secretaria faz um silêncio absoluto sobre o assunto. Acho que isso é mais do que aviltante para o artista. Eu não estou indo à secretaria em meu próprio nome, mas em nome da entidade que represento", diz Zeno Wilde, presidente da Apart (Associação Paulista de Autores Teatrais).
"Às vezes a gente consegue emplacar rápido as coisas, às vezes não consegue. Desde o início da minha gestão estou procurando organizar o Festival Shakespeare no Ibirapuera e ainda não consegui. O caso da Tônia era excepcional", diz Konder. Roberto Askar, presidente da Apetesp (Associação dos Produtores de Espetáculos Teatrais do Estado de São Paulo), questiona o termo "bem-sucedidos". "O que quer dizer isso? O importante é adequar as verbas da secretaria a projetos que contemplem um maior número de pessoas", diz Ascar. Perguntado se liberaria verba para a atriz Fernanda Montenegro montar um espetáculo, Konder diz: "se ela chegasse aqui com uma situação semelhante, eu ajudaria".

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