São Paulo, segunda-feira, 31 de janeiro de 1994
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Polícia cerca favela de SP por 11 horas

DA REPORTAGEM LOCAL

Um tiroteio entre policiais e um grupo de moradores da favela Funerária, no Parque Novo Mundo (zona norte de São Paulo), deixou dois mortos e quatro feridos anteontem às 23h. Um investigador, um escrivão e seu irmão foram surpreendidos quando, segundo a polícia, apuravam uma série de assassinatos. Após o tiroteio, 30 carros da polícia cercaram a favela. Só um suspeito foi detido.
O escrivão Elvis Soares de Mello, 26, morreu com três tiros no peito e uma bala de espingarda calibre 12, disparada como tiro de misericórdia, na cabeça. Seu irmão, Cleber Soares de Mello, 24, que o acompanhava, foi baleado na boca. O investigador Marcelo Augusto Serrano, 29, foi ferido nas costas por um tiro de calibre 12 ao tentar socorrer o escrivão.
O comerciante Uberlândio Gomes da Silva, 25, também morreu no tiroteio. Ele era sobrinho de "Zé Magrela", líder comunitário da favela que está preso sob a acusação de ser o chefe de um grupo de matadores da Funerária. O corpo do comerciante foi achado a cerca de 50 metros do local do tiroteio. Ele teria sido morto pelos policiais. O delegado Mário Tadeu Paz, que chefiou o cerco, não foi achado ontem na 4ª Delegacia Seccional. Segundo a polícia, dois membros do grupo de criminosos foram feridos no tiroteio.
Os dois policiais estavam de plantão anteontem à noite no 90º DP (Parque Novo Mundo). Armados com revólveres calibre 38, eles deixaram a delegacia e, com o irmão do escrivão, foram à favela em um Gol da Polícia Civil. O objetivo, segundo a polícia, era investigar uma série de assassinatos na favela e prender seus autores.
Ao se aproximarem da favela, eles foram vistos por três homens que teriam fugido correndo e entrado em uma viela da Funerária. Os policiais pararam o Gol em frente à favela e correram atrás dos três homens. No meio da favela, os policiais e Cleber foram surpreendidos por cerca de cinco homens armados com escopetas, revólveres e espingardas.
Após o tiroteio, o investigador Serrano e Cleber chamaram reforço pelo rádio do Gol. O Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos), a PM e policiais de delegacias da zona norte cercaram a favela e a vasculharam até as 10h de ontem. Apenas um suspeito foi detido, mas os policiais não conseguiram provar sua participação no tiroteio. Serrano e Cléber não correm risco de vida.
O escrivão foi enterrado ontem à tarde no cemitério da Vila Nova Cachoeirinha (zona norte). Elvis havia feito sua festa de formatura do curso de direito na semana passada. Ele pretendia deixar a Polícia Civil para ser advogado. Seu irmão, Cléber, não foi ao enterro, embora já tivesse recebido alta do hospital. (Marcelo Godoy)

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