São Paulo, segunda-feira, 31 de janeiro de 1994
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Como ganhar jabá e arrancar os cabelos

sendo crítico de música

ANDRÉ FORASTIERI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Eu ganho discos. Quase tudo que sai no Brasil na área pop-rock. É uma das vantagens de escrever sobre (entre outras coisas) música.
Você pode ver isso como um suborno disfarçado das gravadoras, o famoso "jabá". Não é, ou pelo menos não é só isso. É principalmente um meio delas garantirem que as resenhas saiam nas revistas e jornais. Afinal, cada centímetro de papel gasto com um artista é como se fosse propaganda grátis.
É, propaganda. Não interessa tanto se a crítica fala bem ou mal do artista: o principal, do ponto de vista mercadológico, é que o artista apareça bastante. Mesmo que seja para levar um cacete.
Voltando ao jabá fonográfico: é recebendo essa montanha de discos toda semana que você consegue ter uma noção real do que é lançado no Brasil (mesmo que você só ouça 20% do que recebe, como eu).
Meu, é de arrancar os cabelos. Pelo menos metade do que sai é lixo. Você fica se perguntando, a troco de quê isso está sendo lançado? Não vai vender nada, não vai dar prestígio, não é bacana. Então, a troco de quê?
E ao mesmo tempo tem um monte de coisa que devia sair e não sai. Um exemplo: a revista "Spin" de janeiro publicou uma lista dos vinte melhores discos do ano. A "Spin" não é underground: é a principal publicação para o público universitário americano.
Seus críticos elegeram melhor disco de 93 "Exile In Guyville", de Liz Phair –uma resposta feminista, música por música, ao clássico "Exile On Main Street", dos Rolling Stones. Não saiu aqui.
A "Spin" também elegeu "os dez melhores discos que você não ouviu". Só para registro, são discos do Brainiac, Bratmobile, Dina Carroll, Fellow Travellers, His Name is Alive, Mule, Nice, Epic Soundtracks, Jon Spencer Blues Explosion e a coleção de jazz moderninho "Yearbook Volumes 1-3". Nenhum saiu aqui.
As gravadoras são como qualquer outra empresa: seu objetivo primordial é ganhar dinheiro. Então, teoricamente elas não deveriam lançar nada que dá prejuízo. Mas na prática elas lançam um monte de coisa que só dá prejuízo.
Prejuízo por prejuízo, que tal lançar coisas legais e diferentes? Se for por falta de sugestão, ficam as listas acima.

ANDRÉ FORSTIERI, 28, é editor da revista "General".

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