São Paulo, sexta-feira, 7 de outubro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Reduções à vista

A possibilidade de redução das tarifas postais e de telefone é, à primeira vista, um bom sinal para o consumidor e para o esforço de estabilização. Mas, diferentemente do que ocorre com os derivados de petróleo, cuja pequena queda de preços explica-se pela valorização do câmbio e pela baixa nos preços internacionais do produto, ainda não estão claras as razões para as novas reduções em cogitação.
No passado, o atraso das tarifas públicas foi utilizado como instrumento acessório para conter a marcha ascendente dos índices de preço. Sem que fossem corrigidos os desequilíbrios econômicos que de fato impulsionavam a inflação, a manutenção de tarifas artificialmente baixas contribuiu para o endividamento de empresas estatais e o crescimento do déficit público.
O fracasso do ponto de vista antiinflacionário e as distorções criadas por esse tipo de manipulação recomendam que as tarifas públicas não sejam administradas politicamente, mas segundo a realidade de cada mercado. Eventuais reduções precisam estar baseadas em fundamentos econômicos. Nesse sentido, é salutar o procedimento anunciado pelo presidente Itamar Franco de que serão encomendados estudos prévios.
No caso das tarifas de energia elétrica –cuja redução foi igualmente aventada pelo presidente–, a definição de que elas não serão alteradas, feita ontem pelo ministro Ciro Gomes, indica que o governo está agindo com cautela. O que é bom. Uma baixa de tarifas que se mostrasse insustentável poderia levar a sua reelevação em um futuro próximo, prejudicando a estabilização da economia.
Após o positivo desempenho do mês de setembro, no qual a subida dos preços foi excepcionalmente baixa, pode-se prever um acirramento das tensões inflacionárias. Nos próximos meses, os desafios que o governo terá de enfrentar demandam sem dúvida uma atuação rigorosa. Mas o anseio de que a estabilização construída seja duradoura alerta contra medidas que, voltadas para o curto prazo, tragam problemas no futuro.

Texto Anterior: A fala de FHC
Próximo Texto: O acordo CUT-Itamar
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.