São Paulo, domingo, 9 de outubro de 1994
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PT cresce nas áreas mais pobres de S. Paulo

VINICIUS TORRES FREIRE
DA REPORTAGEM LOCAL

A cesta de votos do virtual presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), vaza na medida em que é carregada dos Jardins e Morumbi, na região central e rica de São Paulo, para os extremos da periferia norte, leste e sul –sinônimo de pobreza na cidade.
Neste caminho, varia também o número de eleitores que não escolheram candidatos –eles duplicam entre os pobres.
Como mostra pesquisa de boca de urna Datafolha, FHC bate Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por 57,77% a 25,73% na área homogênea 1 da cidade, a mais rica.
Uma área homogênea é definida pela infra-estrutura urbana e pela renda dos moradores (veja quadro ao lado).
A diferença de 22 pontos é obtida nos bairros paulistanos que concentram grandes casas (Morumbi), a vida noturna cara (Jardins), a classe média universitária (além dos citados, Pinheiros, Vila Madalena) e que sediam os shoppings mais antigos e sofisticados.
O petista perde em todas as cinco áreas homogêneas da cidade, mas diminui a diferença para menos de nove pontos percentuais na periferia pobre.
Nestas regiões, que compõem a área homogênea 5, estão a maioria das favelas, os menores níveis de renda e de escolaridade. Aí, FHC bate Lula por 40,42% a 31,71%.
Na área cinco, também ocorre a única vitória de Orestes Quércia (PMDB) sobre Enéas Carneiro (Prona).
O número de brancos e nulos para presidente aumenta na razão direta do aumento da pobreza.
Na área 1, não escolheram candidatos 4,86% dos eleitores, contra 11,85% nos bairros distantes e pobres.

Zonas eleitorais
Observadas com mais detalhe as regiões da cidade, podem ser notadas tanto diferenças ainda mais acentuadas como traços comuns entre eleitores distantes uns dos outros por desníveis de renda de milhares de reais.
Levantamento feito pela reportagem da Folha em zonas eleitorais da capital mostra que a desinformação, ou opção, na escolha dos candidatos ao Senado é semelhante em lugares tão díspares como os Jardins, onde estão as lojas e restaurantes mais caros da cidade, como na Vila Nova Cachoerinha e Vila Formosa, nas periferias norte e leste.
Em zonas eleitorais das cinco regiões homogêneas da cidade, a taxa de votos em branco para senador variou não mais de cinco pontos, entre 21% e 26%. Muitos eleitores votaram em apenas um candidato, quando poderiam ser dois os escolhidos.
Eleitores dessas mesmas zonas podem se comportar de modo francamente diverso em outras escolhas. Urnas do Jardim Paulista (Jardins, área 1) registram 75% de votos para FHC, contra 12% de Lula.
O petista obtém 29% nas de Vila Formosa (zona leste, área 5), onde o tucano cai para 44%. O bairro marca também uma das votações mais altas do PT na disputa para a Câmara Federal. Aí, os candidatos petistas a deputado federal recebem 29% dos votos, contra 11% nos Jardins.

Governo do Estado
Obedecendo à geografia do voto paulistano, o candidato tucano ao governo do Estado, Mário Covas, perde eleitores na mesma proporção que FHC.
Covas cai de 50,49% na área 1 para 34,49% na área 5.
O adversário de Covas na disputa pelo governo de São Paulo no segundo turno, Francisco Rossi (PDT) tem votação mais uniforme, mas também tem menos eleitores nas regiões mais pobres da capital paulista.
Nas áreas 4 e 5 cresce a votação do candidato petista, José Dirceu, que ainda assim fica atrás do pedetista.
Rossi obtêm sua maior votação (29,23%) na área dois, região central e decadente da cidade, de pequena classe média, comércio atacadista e indústrias.

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