São Paulo, sábado, 15 de outubro de 1994
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Rapaz diz que delirou de fome na mata

DANIELA FALCÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os dois rapazes que passaram 18 dias perdidos na serra do Mar disseram ontem que deliraram depois de passar fome por seis dias.
Lauro Luís do Nascimento, 22, e Alex Bonfim da Rocha, 19, saíram de casa em Poá, na Grande São Paulo, no dia 25 de setembro para fotografar cachoeiras na serra do Mar e terminaram se perdendo.
Na quinta-feira passada, os dois acharam uma chácara na estrada de Itaquariçu, a 30 km de Paranapiacaba, onde haviam começado o passeio, dando um fim ao pesadelo de 18 dias.
``Foi um milagre termos achado a saída. Nos primeiros dez dias, eu levantava com a certeza de que havia passado a última noite no mato e ia dormir frustrado. Ontem (anteontem), já tinha perdido a esperança quando vimos pegadas e marcas de pneus", diz Lauro.
Durante 17 dias, o COE (Comando de Operações Especiais da Polícia Militar) realizou buscas em toda a área de Paranapiacaba, sem encontrar qualquer pista.
As buscas haviam sido suspensas no último dia 12.
Lauro e Alex haviam levado comida para apenas um dia e só sobreviveram porque encontraram duas cabanas de caçadores com mantimentos e cobertores.
``Nunca mais quero ver mato na minha frente", diz Alex.
Para os rapazes, o momento de maior desespero aconteceu na segunda noite dormida na serra.
``Foi nessa hora que percebemos que não seria fácil encontrar o caminho de volta. Foi a única vez que chorei durante os 18 dias", conta Lauro.
``A noite do primeiro dia já tinha sido muito difícil porque fazia muito frio e não dava para enxergar nada. Mas desespero mesmo só bateu no segundo dia", diz Alex.
Durante os seis primeiros dias, os rapazes dormiram em pedras no meio do riacho para se proteger dos animais. Dormiam abraçados para diminuir o frio e rezavam o tempo todo.
``Nas primeiras noites, só dava para cochilar porque havia o risco de cairmos no rio. Além disso, o barulho dos bichos fazia qualquer um ter pesadelos", diz.
No quinto dia sem comer, os dois já não tinham forças para continuar procurando a saída e Lauro começou a delirar.
``Vi uns homens vestidos de branco perto da pedra, mas o Alex estava bem e me ajudou. Quando batia o desespero nele, eu tinha que tirar forças lá do fundo para não desistir de tudo e foi assim que a gente conseguiu sobreviver", afirma Lauro.

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