São Paulo, domingo, 16 de outubro de 1994
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Deputados acima da lei

ELVIS CESAR BONASSA
DANIELA PINHEIRO

ELVIS CESAR BONASSA; DANIELA PINHEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A avaliação do desempenho dos deputados, feita pela Folha no caderno Olho no Voto, provocou protestos de alguns deputados e críticas do ombudsman. O principal argumento foi considerar inadequado o critério adotado para computar as faltas parlamentares.
O argumento dos críticos supõe que a Folha definiu tais critérios arbitrariamente. Isso não é verdade. O critério adotado –computar as presenças em plenário nas sessões ordinárias– está definido na Constituição.
O artigo 55, inciso III, determina: o deputado que faltar à terça parte das sessões ordinárias, em cada ano, perderá o mandato, descontadas licenças e missões autorizadas.
A Folha seguiu exatamente este critério. Foram pesquisadas nos Diários do Congresso todas as atas de sessões ordinárias realizadas desde o início dos mandatos. Descontaram-se depois as licenças, de acordo com relatórios da Câmara.
O levantamento revelou números assustadores de faltas –considerados ``alarmistas" pelo ombudsman, que supõe serem falsos os dados. Mas os dados são verdadeiros. Alarmantes.
O ombudsman supõe que os deputados poderiam estar na Câmara, em reuniões de comissões, e não comparecer ao plenário. Estariam na Casa, mas teriam sido considerados faltosos.
Essa desculpa de alguns deputados não se sustenta. As comissões se reúnem pela manhã e as sessões ordinárias ocorrem à tarde, salvo poucas exceções. O Regimento Interno da Câmara determina: não pode haver reunião de comissão enquanto houver sessão ordinária (art. 46, parágrafo 1º).
Se o deputado esteve na Câmara em dia de realização de sessão ordinária, ele teve tempo de registrar sua presença em plenário. Mais do que isso, vale lembrar, ele tinha a obrigação de estar em plenário.
Se a exigência constitucional é excessiva, trata-se de alterar a lei e rediscutir o funcionamento do Congresso, ao invés de atacar o levantamento feito pela Folha. Isto é algo como culpar o termômetro pela febre.
Não se diga ainda que os parlamentares estão no plenário sempre que algo importante vai à votação. A não aprovação até agora do Orçamento deste ano e o fracasso da Revisão Constitucional são suficientes para mostrar que não é assim. Eles faltam muito.
Duas observações ainda: os três Erramos que o ombudsman contesta, dizendo serem mais, são os que dizem respeito apenas ao levantamento de dados –houve outros de montagem e Redação. Usamos este número para mostar a acuidade da pesquisa, não para escamotear os outros erros.
Quanto ao deputado Fábio Feldman, que teria ficado sem resposta segundo o ombudsman, basta checar a edição do dia 29 de setembro. A resposta está lá, no Painel do Leitor.

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