São Paulo, domingo, 16 de outubro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ganhos de produtividade são superdimensionados, diz estudo

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O ganho de produtividade da indústria está sendo superdimensionado por causa de distorções no mercado de trabalho provocadas pelo aumento dos encargos trabalhistas aprovados na Constituição de 1988. A conclusão é de estudo da consultoria A C Pastore & Associados.
A produtividade costuma ser calculada medindo-se a evolução da produção versus a do emprego industrial.
A produção industrial cresceu em torno de 10% ao ano, nos 12 meses terminados em cada mês, durante quase todo o ano de 1993, enquanto o emprego industrial sofreu forte retração.
Terceirização
Mas, ``parte do que era considerado emprego industrial passou a ser considerado emprego de serviços em função da terceirização", diz o estudo.
Estão neste caso os serviços de limpeza, contabilidade, informática e outros, que antes eram feitos dentro da fábrica e considerados postos de trabalho ``industrial" e que passaram a ser feitos autonomamente ou em pequenas empresas prestadoras de serviço.
No mesmo período, o emprego no setor de serviços cresceu 24,2%. No comércio, o incremento foi de 32,4%.

Sem registro
``Como os serviços continuam a ser prestados às indústrias, o aparente ganho de produtividade está superdimensionado", conclui o estudo. A consultoria diz ainda que o comportamento do nível de emprego nos vários setores da economia mostra a evolução semelhante até 1989. A partir deste ano é que o emprego industrial recua, enquanto o de serviços e o de comércio crescem
Entre 1988 e abril de 1994, cresce o número de trabalhadores sem carteira assinada (20%) e cai o de assalariados com carteira assinada (-7,7%). Também, no mesmo período, cresce fortemente a massa de autônomos (30,8%) em relação aos assalariados como um todo.
Ambos os fenômenos têm origem, diz o estudo, nas mudanças introduzidas pela Constituição de 1988, ``no sentido de aumentar de várias formas os encargos indiretos sobre o emprego da mão-de-obra".
Antes de 1988, o custo da mão-de-obra para as empresas era de 94% (para um salário de R$ 100,00, o trabalhador custava para a empresa, de fato, R$ 194,00). Depois da Constituição, passou a custar 120% e, a partir de 1989, com o aumento (de 10% para 20%) da contribuição das empresas sobre a folha para o INSS, aproximadamente 128%.
Cristina Pinotti, da A C Pastore & Associados, diz que é preciso rever a Constituição de 1988 para garantir ``mais eficiência e mais proteção efetiva para o próprio trabalhador".

Qualidade
Segundo ela, os números mostram que o nível de emprego na indústria não mais traduz a situação de emprego em geral da economia, ``que é menos ruim", mas, através deles, ``não é possível saber nada sobre a qualidade deste emprego".
Ela diz ainda que não foi objetivo estabelecer exatamente qual foi o ganho de produtividade da indústria, mas apenas levantar a discussão sobre a maneira como ele é calculado. ``Houve um ganho, mas ele é menor do que se tem dito."

Texto Anterior: Deputados acima da lei
Próximo Texto: Dieese concorda apenas em parte com avaliação
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.