São Paulo, domingo, 16 de outubro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'É tudo teatro', diz Fernanda

LUIZ HENRIQUE AMARAL ; MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 23 anos, Fernanda (nome de guerra) não quer mais trabalhar como prostituta. Planeja adquirir a franquia de uma loja de doces.
Sua história não chega a ser incomum no meio da chamada prostituição de luxo em São Paulo –um meio onde mulheres bonitas, recém-saídas da adolescência, conseguem faturar entre US$ 5 mil e US$ 8 mil por mês, tem apartamento próprio, carro e usam grifes da moda.
Fernanda mora em São Paulo há cinco anos. Insatisfeita com o salário que recebia numa locadora de vídeo, decidiu se prostituir. Foi atrás de um anúncio que procurava ``recepcionistas".
Acabou numa casa na alameda Franca, nos Jardins, e viu seu nome ser publicado em anúncios de jornal, seguido dos adjetivos ``morena, alta, mignon".
Cabelos pretos, olhos castanhos claros, Fernanda diz medir 1,70 m. Tenta disfarçar o sotaque de garota do interior, carregado nos erres, mas nem sempre consegue.
Na casa da alameda Franca, ao lado de outras quatro garotas, Fernanda atendia das 10h às 22h. Cobrava o equivalente hoje a R$ 100 por programa e deixava 50% da receita com a cafetina.
Três meses após se iniciar na prostituição, Fernanda deixou a casa da alameda Franca, alugou um apartamento na rua Oscar Freire e passou a ir no Café Photo.
Certa vez, saiu com um empresário da noite, que a levou para uma cobertura.
``Ele é conhecidíssimo, mas é louco, completamente louco. Ele me encostou no parapeito, colocou metade do meu corpo para fora e, com um revólver na mão, dizia que ia me matar porque eu era muito bonita. Tive muito medo."
Em sua profissão, beijar o parceiro é proibido e o prazer ``é só teatro".
O cliente ideal, diz, ``não amola, não pechincha, não fica pedindo mil e uma coisas na hora agá e, depois de duas horas, paga e vai embora".
(LHA e MSy)

Texto Anterior: Loja de decoração vira bar de programa à noite
Próximo Texto: Proprietário diz que não tem lucro
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.