São Paulo, domingo, 16 de outubro de 1994
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O BC e o câmbio

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

Pela primeira vez desde a implantação do real, o BC interviu pesadamente no mercado de câmbio. Para impedir valorização ainda maior do real, somente na última sexta-feira, o Depin realizou quatro leilões de compra da moeda americana.
Na semana, a autoridade monetária deve ter comprado mais de US$ 500 milhões. Embora a maior parte dessa sobra de moeda estrangeira tenha vindo das operações de exportação, já há sinais de que as entradas de capitais financeiros voltam a superar as saídas.
Em agosto, setembro e nos primeiros dias de outubro, houve saída líquida de quase US$ 2,5 bilhões no segmento financeiro do mercado de câmbio.
Mesmo assim, o real teve valorização de 15%. Imagine se voltarmos a ter nova onda de entrada de recursos externos nas Bolsas e na renda fixa.
A mudança de postura do BC, que recusava defender a taxa de câmbio via emissão de reais, era uma questão de tempo. Diante da impossibilidade de uma redução dos juros nominais internos, quer pelo aquecimento da economia, quer pelo aumento sazonal da inflação, o diferencial entre os juros no exterior e no mercado interno vai continuar elevado.
Por outro lado, o mercado sabe que o governo não poderá desvalorizar o real durante os próximos meses sob o risco de colocar mais lenha na fogueira ainda acesa da inflação.
Um cenário muito claro para uma rentável arbitragem de moedas. Para complicar ainda mais a gestão do câmbio pelo Bacen, a eleição de FHC provocou uma redução no risco político das aplicações dos investidores estrangeiros no país.
Em outras palavras, podemos esperar durante os próximos meses uma emissão maciça de reais como contrapartida da compra de dólares pelo BC.
Para sua esterilização, a autoridade monetária vai aumentar a colocação de títulos públicos no mercado aberto com duas consequências imediatas: o aumento do custo financeiro do Tesouro em função do spread negativo de mais de 20% entre os juros pagos nos títulos públicos em cruzeiros e os recebidos pela aplicação das reservas externas no exterior. Em segundo lugar, a volta da questão controvertida do aumento da liquidez interna pela criação de quase moeda.

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