São Paulo, domingo, 16 de outubro de 1994
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Exportação avança mesmo com dólar baixo

FIDEO MIYA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os ganhos financeiros obtidos nas vendas antecipadas de câmbio pelos exportadores com operações de ACC (Adiantamentos de Contratos de Câmbio) explicam a manutenção de elevados superávits na balança comercial brasileira.
Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior, em setembro último as exportações foram de US$ 4,162 bilhões, com uma expansão de 20,81% sobre o mesmo mês de 1993 e de 6,45% sobre agosto deste ano, quando se comparam as médias diárias.
Esse crescimento se manteve na primeira quinzena de outubro, apesar da desvalorização acumulada de 17% do dólar em relação ao real desde o início de julho último.
Prova disso são os dados do movimento de câmbio, que mostram uma inversão no fluxo de divisas.
Em setembro, as remessas superaram as entradas de recursos externos em US$ 171 milhões.
Na primeira quinzena deste mês, houve um ingresso líquido de US$ 542 milhões, considerando-se os números preliminares do BC sobre o movimento de câmbio do último dia 14.
Esse saldo positivo foi decorrente de um superávit de US$ 928 milhões nas transações comerciais –US$ 1,734 bilhão de exportações contra US$ 806 milhões de importações– em função do volume elevado de ACC.
Nas operações financeiras, houve um déficit de US$ 264 milhões, com entradas de US$ 1,950 bilhão e saídas de US$ 2,214 bilhões).
O principal motivo das vendas antecipadas de câmbio pelos exportadores é que a taxa interna de juros, mesmo com a redução promovida pelo Banco Central no início deste mês, continua muito alta se comparada com os níveis internacionais.
No Brasil, os juros estão em 3,64% ao mês –53,58% ao ano– nas operações interbancárias de um dia (DI-over).
Nos EUA, a prime rate (taxa cobrada pelos grandes bancos dos clientes preferenciais) é de 7,75% ao ano para prazos de seis meses.
Segundo o vice-presidente do Banco ABC-Roma, Alfredo Neves Penteado Moraes, nas operações de ACC os bancos brasileiros estão cobrando taxas de juros de 8% a 10% ao ano, por prazos de até seis meses.
Elas são feitas com o repasse de linhas internacionais de financiamento ao comércio exterior.
Segundo o diretor de câmbio de um banco nacional, há uma forte disputa entre as instituições financeiras por essas operações e algumas delas chegam a cobrar apenas 6% ao ano de grandes exportadores, ou seja, abaixo da prime rate norte-americana.
Essas operações explicam o crescimento das exportações, indicando que eventuais perdas operacionais com a desvalorização do dólar em relação ao real estão sendo compensadas com os ganhos financeiros.
Para o exportador que contratou ACC nos últimos meses, a queda do dólar ampliou a vantagem financeira da operação, já que, em reais, houve uma redução do valor da dívida (ver quadro ao lado).
É por causa desses ganhos financeiros que as vendas de dólares dos exportadores prevalecem sobre as compras dos importadores, deprimindo as cotações da moeda norte-americana.
Inversamente, os importadores também utilizam as mesmas linhas externas de financiamento e adiam os fechamentos de câmbio das aquisições de mercadorias no exterior. Isso porque, lá fora, a dívida com o fornecedor é transferida para o banco financiador.

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