São Paulo, domingo, 16 de outubro de 1994 |
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Best seller discute amizade e eloquência
MARILENE FELINTO
Folha - O que há de especial na amizade entre o turco e o alemão de seu romance? Sten Nadolny - Selim vem da Turquia para a Alemanha em 1965, como operário. Alexander é um jovem bastante sério, preocupado em tocar sempre no interior das coisas; é uma espécie de filósofo. Mas ele não é capaz de falar, de se expressar para as pessoas. Falta-lhe a retórica. Para compensar isso, ele pensa em se tornar um dia um grande orador. Nunca concretiza esse sonho, a não ser através da amizade com seu Selim, em quem encontra o orador, alguém capaz de falar, de se expressar e fazer as coisas acontecerem através da fala. Folha - Em que medida essa amizade representa o relacionamento entre turcos e alemães na Alemanha de hoje? Nadolny - De um certo modo apenas. Pois não se trata da relação típica entre um turco e um alemão. Não é de fato representativo, porque eu não gosto de fazer propaganda política em ficção, nem mesmo sobre questões de ordem humanitária. Eu sempre tento contar histórias sobre pessoas especiais, que não se parecem com ninguém, que existem por si mesmas. Todos os problemas de relacionamento entre alemães e turcos nos últimos 30 anos estão neste livro, mas as características principais não são representativas. Folha - Quais são suas preferências no que se refere à literatura alemã contemporânea? Nadolny - Leio muito pouco da literatura alemã contemporânea. Prefiro ler não-ficção, filosofia, história, porque sou historiador de formação. Adoro ciência também. Em termos de literatura estou sozinho, sou um marginal. Algumas pessoas sempre tentam encaixar-me em algum movimento ou tendência, mas eu acho que sou apenas eu mesmo, pois não me importam as correntes, as modas, os movimentos. Minha formação em história sempre influenciou minha literatura. Estudei muito a Grécia antiga, e gosto muito dos deuses e deusas gregos. Gosto especialmente de Hermes, que tem equivalente no Brasil. ``Ilegoá"... Não tem no Brasil um deus chamado Ilegoá? Folha - No Candomblé, o sr. quer dizer? Nadolny - Algo como ``Ilegoá"... Folha - O sr. conhece o Brasil? O que acha de ser o Brasil o tema desta Feira? Nadolny - Nunca fui ao Brasil. Conheço apenas Rubem Fonseca, de quem li alguns livros. Conheci também Ferreira Gullar, em Berlim, e gosto muito de seu livro ``Poema Sujo". Acho absolutamente maravilhoso. Acho que a presença do Brasil como tema central da Feira este ano vai fazer com que muitos alemães leiam mais literatura brasileira que antes, e vai incentivar a tradução de obras brasileiras, o que é o mais importante. Texto Anterior: Best seller não rouba lugar de Homero Próximo Texto: Otimismo ajuda a superar desafios Índice |
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