São Paulo, domingo, 16 de outubro de 1994
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Best seller não rouba lugar de Homero

ARTUR NESTROVSKI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Deixando de lado o círculo dos estudiosos ou apologistas da cultura de massa, é comum escutar expressões de desprezo pelo best seller. O leitor da assim chamada ``boa" literatura tende a reagir contra o best seller como se este houvesse usurpado um lugar que não lhe cabe de direito.
Antes de mais nada, é preciso diferenciar um livro que vende bem da definição de best seller como gênero literário, propriamente dito. Paulo Coelho não é um best seller no sentido estrito, mas vende mais que os best sellers. O romance best seller americano todo mundo sabe como é, mas ninguém tem a receita para se fazer um campeão de vendas, seja de ficção ou não-ficção.
Não é preciso defender o best seller como literatura para defendê-lo da acusação de usurpar o espaço de Homero, Dante e Shakespeare. Ninguém acusa Kojak de usurpar o lugar de Fellini ou Truffaut. São formas diferentes de cinema, para públicos que não necessariamente se confundem. O mesmo se dá com os livros.
Como bem disse Rinaldo Gama, em conversa com Marcio Souza numa reportagem da revista ``Veja" (13/6/94), não é o leitor de Celso Furtado que desapareceu hoje no Brasil: é o público novo de um Lair Ribeiro que apareceu no cenário. Há muitos motivos para se lamentar que este público seja tão grande e tão característico do nosso país hoje, ou que, por outro lado, a audiência de uma literatura de arte, ou de crítica, não aumente, talvez até tenha diminuído. Mas não é o best seller que está tomando o seu lugar.
(Arthur Nestrovski)

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