São Paulo, domingo, 16 de outubro de 1994
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Muçulmana é fichada nos EUA por usar véu

CAROLYN PESCE
USA TODAY

Por ser muçulmana, Tayyibah Amatullah optou por cobrir seu corpo inteiro com camadas de roupas, deixando visíveis apenas seus olhos.
Para ela, é uma questão de liberdade religiosa. Para a polícia de Saint Paul, Estado de Minnesota, uma infração à lei.
Amatullah, 21, diz que estava fazendo compras num shopping center no centro de St. Paul quando cinco policiais a ficharam por ocultar sua identidade.
Devido a três assaltos a bancos, alguns roubos e outros crimes cometidos em shoppings, a polícia reforçou a execução de uma lei raramente implementada que proíbe as pessoas de ocultarem sua identidade "através de roupas, máscaras ou outros disfarces".
A polícia diz que vem fichando pessoas por usarem máscaras de esqui e membros de gangues que cobrem seus rostos com lenços.
Os policiais disseram que Amatullah não tinha a mesma aparência das mulheres muçulmanas tradicionais que já viram. Suas roupas estavam sujas e esfarrapadas. Quando pediram que ela retirasse o véu, ela se recusou.
Cerca de 25 mil muçulmanos vivem na área. Eles estão revoltados com o caso de Amatullah, que vêem como um desrespeito a seus direitos humanos e religiosos.
"Estamos irados", diz Magda Saikali, uma ativista que organizou protestos contra o tratamento dado a Amatullah. "Somos molestados o tempo inteiro por causa de nossas roupas".
Grupos religiosos em todo o país cada vez mais ganham a batalha por seus direitos. Uma lei federal de novembro passado dificulta a interferência policial nas práticas religiosas dos cidadãos.
"Não cabe à polícia de St. Paul definir como ela acha que um muçulmano deve se vestir", diz Ibrahim Hooper, do Conselho de Relações Americano-Islâmicas, em Washington.
A entidade cogita abrir um processo contra o departamento de polícia de St. Paul, alegando discriminação religiosa.
"Precisamos fazer com que as muçulmanas que desejem usar véu possam andar nas ruas de Minnesota", diz Hooper.
O porta-voz da polícia, Paul Adelmann, diz que "o procedimento da polícia não é fichar todas". Mas "os policiais não sabiam se ela era homem ou mulher".
Amatullah nega que suas roupas estivessem esfarrapadas. Ela diz que os policiais lhe disseram: "Você não pode andar em público vestida desse jeito".
Ela diz que foi ordenada a sair do shopping ou tirar o véu. Quando se negou, foi levada para uma sala onde os policiais a forçaram a tirar o véu. "Senti-me degradada", contou Amatullah, que se converteu ao islamismo dois anos atrás.
Para agravar a controvérsia, a polícia declarou que Amatullah foi presa três anos atrás por furto numa loja e de novo, nove meses atrás, usando véu, por preencher um cheque falso.
Amatullah admite que foi presa no seu 18º aniversário por furto, mas diz que isso ocorreu antes de sua conversão ao islamismo. Ela nega ter assinado cheques falsos, mas diz que foi presa por não ter seguro do carro, e que ainda paga a multa imposta, de US$ 550.
Para Saikali e outros muçulmanos de Twin Cities, a ficha de Amatullah não vem ao caso. O procurador assistente de St. Paul, Theodore Leon, está revendo a acusação, que pode implicar no máximo em 90 dias de prisão e multa de US$ 700.

Tradução de Clara Allain.

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