São Paulo, domingo, 16 de outubro de 1994
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Peres aposta na integração

CLAUDIO GARON
DA REDAÇÃO

Depois da assinatura da Declaração de Princípios que acabou com décadas de conflito entre Israel e a OLP, o chanceler israelense Shimon Peres publicou "O Novo Oriente Médio".
Na obra, o ministro lembra sua participação nas negociações que levaram à assinatura do acordo em setembro de 1993, que lhe valeu o Prêmio Nobel da Paz junto com o premiê Yitzhak Rabin e o líder da OLP, Iasser Arafat, e apresenta sua visão sobre o futuro da região.
O livro, que deve chegar às livrarias brasileiras no próximo mês de novembro lançado pela Relume Dumará, faz uma defesa apaixonada da integração do Oriente Médio como a melhor aposta para o aprimoramento das condições de vida de israelenses e árabes.
Herdeiro político de David Ben-Gurion, fundador e primeiro chefe de governo de Israel, Peres reconhece as dificuldades enfrentadas por sua proposta, mas afirma que a união é a única forma de "salvar o Oriente Médio da combinação letal de poder nuclear e fundamentalismo" –identificado pelo chanceler como o maior adversário da paz na região.
Além da vontade política dos diversos países, a integração regional depende de ajuda internacional para recuperação da infra-estrutura do Oriente Médio, diz Peres.
O chanceler dedica um capítulo à questão da água, talvez o mais crucial dos problemas do Oriente Médio. Em outro aponta proposta para resolver os problemas dos refugiados. Segundo Peres, a experiência israelense com a absorção dos imigrantes judeus pode ser usada pelos próprios palestinos.
Sobre o futuro do acordo de paz, o autor defende uma confederação entre palestinos e jordanianos do ponto de vista político e uma unidade econômica dos dois com Israel.
Apesar de suas credenciais pacifistas, alguns pontos do livro indicam claramente os limites de negociação do chanceler e ex-primeiro-ministro. Sempre que se refere a Jerusalém, ele a chama de "capital de Israel", fato que não é reconhecido pelas Nações Unidas, deixando entrever que não negociará o status da cidade.
O chanceler aproveita o livro para criticar a oposição de direita em Israel, liderada pelo Likud. Peres lembra que foi o Likud do ex-premiê Yitzhak Shamir que iniciou negociações, ainda que indiretas, com a OLP.
Para Peres, apenas a imaginação do governo do Likud poderia pensar em uma liderança palestina independente da OLP. Em 1991, o governo Shamir exigiu que os negociadores palestinos fossem independentes da organização de Arafat, mas aceitou que a equipe fosse chefiada por Haider Abdel al Chafi, um dos fundadores da OLP.
Ao comentar a transição do autoritarismo para a democracia nos países árabes e nas ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central, Peres deixa uma lição que pode ser útil em outras áreas: "O público não assimilará valores democráticos se o processo de democratização das instituições não for acompanhado de um processo de modernização, abertura para o exterior e prosperidade social".

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