São Paulo, domingo, 16 de outubro de 1994
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Renovação sem evolução

Uma primeira leitura dos nomes que irão compor a Câmara Federal e o Senado, a partir de 1995, só pode causar desânimo. Se houve renovação (perto de 60% dos atuais deputados perdem seus cargos), não parece ter havido renovação nas características básicas de uma parcela substancial dos eleitos.
São políticos no velho estilo clientelista e fisiológico, alguns deles com a imagem seriamente maculada por suspeitas de irregularidades administrativas. Talvez o caso mais simbólico, embora não o único, seja o de Newton Cardoso, que foi governador de Minas Gerais entre 1987 e 1991 e agora obteve a maior votação em seu Estado para a Câmara Federal.
Newton Cardoso deixou o governo com a imagem fortemente arranhada por suspeitas de graves irregularidades. Era tão negativo o julgamento de sua administração que, nas duas eleições estaduais sucessivas, seu partido (PMDB) nem mesmo conseguiu levar seu candidato ao segundo turno.
É evidente que Newton Cardoso tem todo o direito à presunção de inocência até prova em contrário, do ponto de vista jurídico. Mas, do ponto de vista político, vale para ele, como para todos, a já surrada frase que diz que à mulher de César não basta ser honesta, ela tem também que parecer honesta.
Contribui para uma avaliação pessimista do novo Congresso a constatação de que a política brasileira ainda é uma questão de família. No Maranhão, por exemplo, uma filha do ex-presidente José Sarney, agora senador pelo PMDB do Amapá, disputa o governo, no segundo turno, enquanto outro filho, José Sarney Filho, já está eleito deputado federal.
No Paraná, Roberto Requião (PMDB) elegeu-se senador e seu irmão, Maurício, deputado federal. No Pará, o ex-governador Jáder Barbalho elegeu-se senador e sua mulher, Elcione, foi a candidata mais votada para a Câmara Federal.
Os exemplos são tantos que tornam inverossímil a hipótese de que, no seio de todas essas famílias, só nascem luminares da política e da administração.
Some-se a isso o fato de que, no país todo, elegeram-se radialistas ou jornalistas de TV em grande quantidade. Claro que têm todo o direito de postular um cargo público, mas é evidente que a esmagadora maioria deles o faz apenas com base no fato de terem rosto e nome conhecidos, já que idéias, mesmo, poucos apresentaram.
À primeira vista, portanto, renovação não foi, de novo, sinônimo de evolução. Resta, em todo caso, torcer para que os novos eleitos desmintam o ceticismo inicial com que se recebe boa parte da lista de deputados e senadores para o período entre 1995 e 1998.

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