São Paulo, domingo, 16 de outubro de 1994
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Ajudem-nos a pensar

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Não sei se é um falso problema. Mas ele me preocupa. E muito. Vejam só: o Brasil precisa desesperadamente de capitais para serem investidos na produção. Só assim teremos empregos, salários e prateleiras cheias.
A continuar como está, o recente esforço de estabilização da nossa economia animará os capitais a saírem da ciranda financeira e voltarem para a produção. Isso inclui os capitais estrangeiros. Ótimo. Precisamos deles.
Mas a entrada maciça de recursos externos forçará o Banco Central a comprar dólares, emitindo reais ou vendendo títulos no mercado. Isso fará deprimir ainda mais o valor do nosso Real, que hoje está em torno de R$ 0,85 por dólar. Hoje estamos exportando cerca de US$ 40 bilhões por ano. Se a aludida apreciação continuar, isso custará US$ 6 bilhões ao Brasil. Essa perda é gravíssima para as exportações e, assim sendo, é prejudicial ao emprego e ao salário dos que dependem das empresas que vendem no mercado internacional.
Será esse um falso dilema? Não sou economista e, talvez por isso, não consigo ver como sair dessa armadilha. Muitos poderão argumentar que nossa balança comercial está superavitária. Mas o Brasil precisa aumentar muito sua atividade exportadora. Exportamos menos de 10% do nosso PIB, enquanto a média internacional é de 20%. Os Tigres Asiáticos exportam 30%, 40% e até 50%. A participação do Brasil nas exportações mundiais representa um anêmico 1%.
Já vi notícias dando conta de que o governo estaria cogitando taxar a entrada de capitais estrangeiros. Acho isso errado, especialmente no caso dos recursos destinados à produção. Uma taxação desse tipo seria absurda no momento em que o Brasil recupera sua credibilidade internacional.
A recuperação da credibilidade precisa ser ampliada. Muitos investidores já começam a considerar a volta ao Brasil –exceto alguns brasileiros que puseram seus recursos lá fora e, por não acreditarem em milagres de santo de casa, são relutantes. Mais cedo ou mais tarde, eles também passarão a confiar na nossa economia, como aconteceu na Argentina, México e Chile. O repatriamento demora, mas ocorre.
Retomando o enigma. Como atrair os capitais necessários e elevar o nível de nossas exportações? Os engenheiros das finanças estão sendo desafiados a resolver essa charada. Eles terão de criar estímulos para os capitais estrangeiros produtivos e para as exportações de produtos brasileiros, simultaneamente.
Confesso não ter a fórmula mágica para essa dupla empreitada. Estou no estágio da perplexidade, buscando uma saída. Qualquer sugestão certamente será um bálsamo para quem está metido até o pescoço na deliciosa tarefa de produzir e gerar empregos dentro do Brasil. Agradeço aos que me ajudarem a pensar.

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