São Paulo, domingo, 16 de outubro de 1994
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O PFL e a pecha de fisiologista

ANTONIO CARLOS MAGALHÃES

Os eleitores brasileiros, sem dúvida, fizeram nas urnas a opção pelo melhor entre os que se apresentaram na disputa pela Presidência da República. Cabe agora a Fernando Henrique, com a capacidade que lhe é própria, conduzir o país rumo à estabilidade econômica e à retomada do desenvolvimento.
Ele, até por ter sido o mentor, sabe que o Plano Real é apenas o primeiro passo. Sabe que essas conquistas –necessárias para o resgate da imensa dívida social que este país tem com seu povo– exigirão muita competência e o exercício de toda a autoridade que lhe foi conferida nas urnas, numa votação sem paralelo na história política brasileira.
Fernando Henrique não pode errar, pois frustraria as esperanças nele depositadas pelos diversos segmentos da nossa sociedade.
O PFL, que deu sustentação no Congresso Nacional ao seu plano econômico quando muitos ainda duvidavam do seu sucesso, e que ajudou a viabilizar politicamente sua candidatura, não tem reivindicações a fazer. A não ser que os objetivos que determinaram a formalização dessa coligação vitoriosa nas urnas sejam perseguidos do primeiro ao último dia do governo.
Não vamos estimular o preconceito dos derrotados que não tiveram a grandeza de abrir mão de ambições pessoais por uma causa maior, que é a estabilidade, tanto política quanto econômica, sem a qual o Brasil não conquistará o almejado desenvolvimento. E não poderá atender às crescentes demandas sociais, sempre justas, mas difíceis de serem resolvidas na sua totalidade.
Esses maus políticos, rejeitados pelo povo, ficam a esperar uma tola vingança, ou seja, dificuldades para o futuro governo em razão da aliança política que lhe dará sustentação. Já deveriam saber que as diferenças políticas são irrelevantes diante da grandeza dos problemas que temos de enfrentar e que, só através de um amplo apoio da sociedade, dos congressistas, poderemos alcançar. Até porque passam por reformas indispensáveis na Constituição.
A pecha de fisiologista que tentam impor ao PFL, por meio de repetidas declarações divulgadas nos meios de comunicação, por exemplo, não se sustentará por um motivo muito simples: o partido não irá reivindicar cargos no futuro governo, não vai interferir nas escolhas feitas pelo futuro presidente.
Embora parlamentarista por convicção, Fernando Henrique sabe que foi eleito chefe de Estado e de governo, e a ele caberá toda a responsabilidade na escolha de seus auxiliares. É lógico supor que governará com seus aliados políticos, sem prejuízo do aproveitamento no governo de outras figuras de mérito, onde quer que se encontrem.
O PFL não reivindicará ministérios, embora tenha quadros qualificados e de competência comprovada para cumprir essa ou aquela tarefa. Não é do interesse do partido sugerir nomes, nem do presidente receber indicações. Ele saberá escolher seus auxiliares entre os melhores. O importante é que cumpra os compromissos assumidos em praça pública, não cedendo a pressões corporativistas que buscam manter privilégios e emperram o progresso do país.
O presidente eleito teve o mérito de compreender oportunamente a necessidade de se formar uma aliança de forças políticas, aparentemente díspares, com o propósito de apressar as reformas necessárias para que este país saia do subdesenvolvimento. Abandonou o sectarismo que caracteriza as chamadas ``esquerdas" brasileiras, hoje entre as mais atrasadas e que estão, literalmente, na contramão da história.
Já o PFL, por sua vez, não ficou insensível às mudanças que ocorreram no mundo na última década e percebeu que o melhor para o país seria perseguir a união em torno dos compromissos básicos e indispensáveis para a estabilidade econômica –e a consequente melhoria da qualidade de vida dos brasileiros. Este é o sentido da aliança, não o atendimento de ambições de poder, como querem fazer crer as forças do atraso.
A aliança deu certo no Brasil e, em particular, na Bahia, onde teve o respaldo de um governo que chegou a ter um índice de aprovação dos mais elevados do país. E o resultado foi a eleição de dois senadores e de um governador (com certeza no segundo turno, pois poucos votos o impediram de comemorar a vitória já no dia 3 de outubro).
Isso porque na Bahia se fazia e se faz um governo exclusivamente de acordo com a vontade popular, sem sinal de fisiologismo e resolvendo, tanto quanto possível, muitos problemas básicos do Estado. Trabalhou-se e trabalha-se com os olhos voltados para o futuro, mas também buscando preservar os valores históricos e culturais do povo baiano.
Mas o importante em todo processo democrático –o que os políticos não podem esquecer– é que a fonte de autoridade do presidente da República, do governador, do senador e do deputado é o povo. Nas urnas ele escolhe os melhores e condena aqueles que, em vez de servir, se servem do poder. O que espero é que o futuro Congresso Nacional, renovado nessa eleição por mais uma lição dada pelo povo, cumpra seu dever para com a nação.

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