São Paulo, domingo, 16 de outubro de 1994
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Pagar e passar ridículo são as formas mais fáceis de chegar à TV

IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Há várias formas de aparecer na TV caso você não seja um ator ou uma modelo. Para conquistar seus 15 segundos de fama, basta se submeter ao ridículo de levar tortas na cara ou cantar sucessos de Nelson Ned.
Se você é desses que adoram participar, inscreva-se nos programas de calouros, brincadeiras e gincanas que abundam por aí.
Os ricos, porém, não precisam se sujeitar a tanto, o que mostra que a TV não é tão democrática assim.
Basta pagar e falar o que quiser sobre sua empresa sem correr o risco de perguntas inconvenientes. O único esforço é o de bebericar drinques coloridos em bares da moda durante a ``reportagem".
Assim é nos quatro programas de colunismo social hoje no ar: "Circuito Night and Day", "Perfil", "Flash" e "Atayde Patreze Visita".
"Sobrevivemos de merchandising e matérias comerciais", explica Jika Kanossa, diretora comercial do "Circuito Night and Day". "Começamos a entrevista com um bate-papo descontraído e só depois falamos da empresa ou do produto", diz.
A produtora do programa, Carmem Portela, resume a questão no bordão de seu chefe Celso Russomano: "Assim fica bom para ambas as partes".
Atayde Patreze, contrariando as expectativas, garante não aceitar jabaculê (dinheiro em troca de divulgação nos meios de comunuicação).
A lógica de Atayde, no entanto, permite-lhe cobrar uma cota de milhares de dólares para fazer um "vídeo institucional" sobre uma empresa e veiculá-lo em seu programa. "Só aceito empresas com tradição, que são um luxo!", diz.
O diretor comercial do "Perfil", Otávio Neto, faz coro. "Há uma triagem muito séria entre os produtos". Passada a tal triagem, porém, acabam-se as exigências. "Ele nos contrata e fala o que quiser de seu produto", diz.
O "Flash", de Amaury Jr., é o único dos quatro que alerta que a reportagem é paga. "Colocamos uma tarja avisando", diz Amaury. Ainda que a inscrição "Flash Bussiness" seja pouco esclarecedora, há alguma vontade de não se vender gato por lebre.
Vaidade pessoal, porém, não tem vez no telecolunismo –gritam em uníssono todos eles. Os quatro programas garantem, por exemplo, que jamais farão reportagens em festas só de desconhecidos. Não importa quanto paguem.

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