São Paulo, quinta-feira, 20 de outubro de 1994
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O começo do Rio

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de muito relutar, entre a recontagem parcial, a recontagem total ou a nova eleição para deputado –a ponto de fazer a Globo e até a CNN dar a recontagem parcial como certa– a Justiça decidiu-se afinal pela nova eleição no Rio.
Foi o fato do dia, na televisão e no rádio, do Aqui Agora ao Jornal da CBN, com detalhes importantes como ``a defesa mais aplaudida (de um novo pleito) foi do juiz que pediu a participação das Forças Armadas, na próxima eleição".
Melhor assim. Nada de jeitinho, que foi o que se fez na fraude de 1982, com os efeitos esperados. A decisão dá exemplo, afinal. Um exemplo como aquele que foi tentado, no desembarque da seleção, mas que terminou em queda na Receita.
Decisão tomada, talvez seja bom registrar que o maior defensor da nova eleição –de início no rádio, depois chegando à televisão– foi o procurador eleitoral, Alcir Molina, que avisou que a recontagem não bastava, contra tanta fraude.
Mas coube ao juiz Paulo César Salomão, do TRE, o desabafo para a história através da televisão:
– Foi uma decisão difícil, uma decisão histórica, eu diria, que pode ser um começo para um novo Estado do Rio. Porque nós estamos há tempos sendo submetidos a diversas provações, a diversos vexames. E este tribunal não endossou a fraude, a vigarice. (Não deixou que) o canalha prevalecesse e ganhasse.

No morro
Por outro lado, na Globo, Record, SBT, em toda parte, as imagens e a locução deixaram evidente que a vingança da polícia foi um novo e maior desastre para a imagem e o respeito do já enfraquecido Estado do Rio de Janeiro. Exemplos:
``Emoção no enterro dos treze traficantes", na Record.
``Comércio fechado e faixas pretas foram sinais do luto na favela", no SBT.
``O luto atravessou as fronteiras da favela e chegou ao asfalto", na Globo.
``Silêncio e faixas pretas também na favela da Varginha, a dois quilômetros da favela Nova Brasília", também na Globo.
``No cemitério, caixões enfileirados e revolta contra a polícia", no SBT.
``O comércio fechou as portas e o silêncio tomou conta das ruas", na Globo.
Aqui e ali a Globo, em particular, buscou passar a idéia de que o luto foi ``imposto" por traficantes. Mas as cenas não deram chance. Desde o ônibus incendiado até o velório, as imagens mostraram bem claramente de que lado ficou o morro.

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