São Paulo, sábado, 22 de outubro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Elenco trabalha com software

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM NOVA YORK

A Fundação Cunningham ocupa três andares de uma antigo prédio de Greenwich Village, Nova York, construído pela companhia telefônica Bell's para abrigar estúdios de artistas.
No topo deste prédio fica à enorme estúdio onde os 16 bailarinos da Merce Cunningham Dance Company ensaiam pelo menos cinco horas por dia –sem música.
Ouve se apenas sons do ambiente, do tráfego na rua que margeia o rio Hudson, dos ventiladores, do toque dos corpos dos bailarinos no chão. É assim desde os anos 50, quando Cunningham, baseando-se nas leis do acaso, resolveu juntar coreografia, música e cenários somente no dia da estréia.
"Para nós, o sentido de tempo vem de nosso ritmo interior", diz Chris Komar, que depois de dançar no grupo por mais de 20 anos, assumiu em 1992 a função de diretor artístico-assistente.
É Komar quem ensaia a companhia atualmente. "Além das habilidades físicas, o bailarino tem que ter flexibilidade mental. No espaço, enquanto dança, precisamos fazer escolhas inteligentes, quanto ao tempo e ao espaço."
Sempre desafiado pelas inovações de Cunningham, o elenco vem trabalhando, nos últimos dois anos, com coreografias feitas através do computador.
Utilizando um software denominado "Life Forms", Cunningham explora infinitas possibilidades de movimento, geradas por uma figura que faz da tela do vídeo um palco com várias referências espaciais.
Em seguida, Cunningham mostra a coreografia criada por computador aos bailarinos, que usam todas as suas habilidades para decifrar as mais complexas combinações de passos.
"As coreografias não descrevem emoções ou histórias. Isso não quer dizer que dançamos sem emoção", explica Komar. "Cunningham não diz como devemos sentir isso ou aquilo. Ele deixa que cada um decida por si."
Segundo Komar, durante cada apresentação o bailarino lida com emoções próprias do momento, reage aos demais parceiros.
Como um centro urbano repleto de acontecimentos simultâneos e quase sempre desconectados, as coreografias de Cunningham permitem que cada espectador escolha os diferentes focos de ação que acontecem no palco.
(AFP)

Texto Anterior: Rauschenberg fez cenografias
Próximo Texto: Inversão térmica ; Arquibancada
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.