São Paulo, sábado, 22 de outubro de 1994
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Moda japonesa vive a sua consagração

COSTANZA PASCOLATO
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM PARIS

Os japoneses que contam no meio da moda são os ``japoneses de Paris" (mas que vivem no Japão). Influentes mesmos só Rei Kawakubo (Comme des Garçons), Yohji Yamamoto e, de certa forma, Issey Miyake. Kenzo, que reinou absoluto nos 70, é parisiense radicado e hoje é só nome. Seu produto é comercial, bonitinho, mas sem nenhuma ascendência.
Kawakubo e Yamamoto foram os estilistas que estremeceram a estética ocidental do início dos 80. Em resposta a um establishment com falta de idéias, seduziram com roupas basicamente negras, sem forma, com recortes/rasgos e maquiagem lívia que sugeria a beleza pós-desastre nuclear. Colou.
Imediatamente o mundo se ``japonisou" transformando (erradamente) todos os japoneses criadores, conhecidos e desconhecidos, farinha do mesmo saco –erro que o tempo corrigiu. Hoje, cada um na sua, têm talvez um único fio condutor comum: o espírito meio ``gender-bender". Neles é natural, já que não esquecem suas raízes culturais. No Japão o traje tradicional é o quimono. Para eles e para elas.
Comme des Garçons
Estilo forte e radical o de Rei Kawakubo. Para a primavera-verão de 95 fez proezas nos volumes de seus ternos, agigantando-os. Deixou todos desconcertados. Mas é o que ela espera que aconteça. Triturou paletós (às vezes só sobra um pedaço usado como avental) e colocou sobressaias de babadinho sobre ternos masculinos. Brincou com o estilo de Jean Paul Gaultier à sua maneira (enrolando longos kilts sobre calças compridas).
Fez apologia do ``gender-bender". O convite propunha: ``Transcendendo o gênero, o pressentimento da feminilidade em seu processo de desaparecimento". No final, mostrou o que sabe fazer com cinco ternos femininos de proporção perfeita, usáveis e elegantes. Usados com sapatos de amarrar, bem pontudos e com salto fino de 5 cm.
Yohji Yamamoto
Rei Kawakubo é a criadora mais masculina da modernidade e Yohji tem a alma mais feminina, poética e delicada. Há duas estações vem fazendo estilo à sua maneira inconfundível. O quimono tornou-se protagonista. Fez agora alguns que, de tão leves, armam-se quando se anda, mostrando desenhos incríveis.
Técnicas tradicionais de pintura, desbotamento de tecidos e dobraduras conseguiram efeitos espetaculares e elegantes. Yohji usou o corte em rés (que está na moda) nos longos vestidos (com capas) negros decotados (espécies de frente-únicas). Um toque punk e bonitos vestidos longos de linha império acrescentaram o look ocidental –moda para intelectuais.
Issey Miyake
É o estilista que mais se parece com o artista plástico. Seu estilo é instantaneamente reconhecível, sobretudo pelo incrível trabalho de criação de tecidos. Os plissados –marca registrada–, altamente copiados, fazem parte de uma linha mais acessível, distribuída em lojas especiais com a etiqueta ``Pleats Please". Issey cria formas abstratas com suas roupas. Amassados, nervurados e plissados, os tecidos recriam movimentos alternativos para quem os usa. Uma manga ``quebra-se" em diferentes lugares, não respeitando unicamente as articulações.
Quem assiste a um desfile Miyake tem acesso a um grande espetáculo. Nesta estação, uma silhueta fina em tons pastel e tecidos semitransparentes dava a sugestão de grande leveza ao som de orquestra japonesa tradicional. Yssey brinca: ``só consegui ser realmente famoso com o sucesso de meu perfume ``Eau D'Issey".

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