São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 1994
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Fundos de ações com risco perdem mais

FIDEO MIYA; JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Carteiras de alto risco podem render bons lucros para o investidor. Porém, acarretam grandes perdas quando há uma reviravolta no mercado, como ocorreu nas Bolsas de Valores em outubro, com reflexos diretos nas cotas dos fundos de ações.
Segundo o consultor Jacó Alexandre Kirzner Chirou, da Studio Econômico, a eficiência do administrador de carteiras pode minimizar as perdas, mas o fator determinante é o risco.
Numa análise de risco e eficiência de 76 fundos de ações, Chirou constatou que, dos 20 maiores fundos –que detêm 75% do patrimônio líquido total–, 13 registraram prejuízos acima da média de 5,77% da indústria (ver tabela ao lado) no período de 1º a 18 de outubro último.
Os outros sete maiores fundos perderam menos que a média. Chirou comparou a rentabilidade dos fundos neste mês com os índices de risco e eficiência das respectivas carteiras em setembro passado.
A pesquisa mostrou que nenhum dos 20 maiores fundos apresentou índices de eficiência alta ou muito alta. A maioria –14– ficou na média.
Ele explica que utilizou a metodologia do economista norte-americano Michael Jensen, autor de um dos quatro métodos internacionais de análise de eficiência das carteiras de investimentos.
Essa metodologia afere a eficiência de uma carteira comparando a rentabilidade registrada com aquela que é esperada, esta resultante de uma fórmula matemática que contém a taxa de juros da renda fixa (isenta de risco), a rentabilidade média do mercado e a oscilação da carteira em relação a essa média (índice beta).
Desse modo, quanto maior for a diferença da rentabilidade registrada sobre a esperada, maior é a eficiência da carteira.
Para identificar os índices de risco dos fundos, Chirou utilizou o índice beta, determinado por outra fórmula que compara a oscilação de uma carteira em relação à média do mercado. Quanto maior essa oscilação, mais alto é o risco.
Na tabela ao lado, o fundo Realmais, que apresentou risco muito alto e eficiência média em setembro, registrou a maior perda (-12,40%) de 1º a 18 deste mês.
Já o Global Investment, único a registrar rentabilidade positiva em outubro (1,86%), apresentou risco muito baixo e eficiência média no mês passado.
Segundo Chirou, sua pesquisa de risco e eficiência analisa o passado para poder prever o futuro. Porém, há margens de erro, como mostra o exemplo do fundo Bandeirantes Ações: apesar de ter apresentado índices de alto risco e baixa eficiência em setembro, seu prejuízo (5,62%) neste mês ficou abaixo da média de 5,77%.

IOF na Bolsa
As Bolsas deixaram de ser um mercado livre. O Banco Central (BC), com a taxação de 1% de IOF sobre os investimentos estrangeiros, passou a ter um peso. A avaliação é de Álvaro Augusto Vidigal, presidente da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo).
Vidigal lembra que a decisão do governo pode criar algum ruído. A taxação de IOF pode ser elevada até o patamar máximo de 25%.
Para o presidente da Bovespa, não se tem levado em consideração que o impacto dos impostos nas aplicações de renda variável não é o mesmo que na renda fixa.
``No juro, você só faz a conta de quanto vai deixar de ganhar lá na frente. Na renda variável, o imposto acaba recaindo sobre todo o estoque de títulos. A Bolsa cai."
Vidigal concorda com a avaliação, feita por alguns analistas, de que a taxação de 1% é irrelevante para os investidores estrangeiros que vão aplicar com um horizonte de longo prazo.
Mas para aqueles que arbitravam os preços de algumas ações na Bovespa contra Nova York, caso da Telebrás, o tributo é pesado.
Num primeiro momento, a taxação vai acabar criando um diferencial de preços –fica mais barata no Brasil (o mercado mais taxado). Depois, no limite, como já aconteceu com Chile e México, a liquidez daquele papel pode simplesmente migrar para Nova York.

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