São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 1994
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Quando dizer menos diz mais

ALEX PERISCINOTO

A tendência agora é falar de tendências (este deveria ser o título do artigo). Estamos nos aproximando de um novo milênio e elas já estão sendo discutidas, profetizadas.
A propaganda, neste caso, segue de olhos ligados para o futuro. E não é de hoje. Nas décadas de 60 e 70 tivemos um crescimento criativo com grande participação dos diretores de arte, como Bob Levenson, superpremiado diretor de criação, a quem perguntei como é possível conhecer um bom texto.
``Quando cada linha podia estar no título", ele respondeu. Ou, quanto menos palavras melhor. Hoje, com o equilíbrio a que chegamos entre as áreas de Direção de Arte e de Criação, a tendência é a de cada dia se fazer uma propaganda mais objetiva e gostosa de se ver.
Vejamos o anúncio da Polaroid, ilustrado acima. Muito mais que economia de tempo (e aí eu estou me referindo à foto tirada em Polaroid), temos, curiosamente no anúncio, uma economia de imagem e de palavras.
A figura de um homem que tem sobre a boca uma foto instantânea de uma pia entupida, com a seguinte legenda: ``Preciso consertar esse troço", o título ``Como falar rápido sem dizer uma palavra" conseguem falar por mil frases, parágrafos.
Dizer menos para dizer muita coisa. E essa é apenas uma das várias tendências. Na área de marketing, por exemplo, há um livro muito interessante intitulado ``Transição 2000", no qual quatro mestres do assunto analisam tendências, mudanças e estratégias para o próximo século.
A saber, as novas prioridades do marketing, apresentadas por Marcos Cobra, com destaque para ``o novo papel da comunicação dirigida em que a megaagência de propaganda cederá lugar a células especializadas de comunicação e marketing" e para quando ele visualiza como ficarão, no século 21, as relações públicas e a assessoria de imprensa.
Ou seja, ``como as empresas poderão buscar parcerias com comunidades, governo e sindicatos através de sua assessoria à imprensa e aos diversos públicos com os quais terá de interagir".
No mesmo livro, são citados Al Ries e Jack Trout, para quem o marketing do futuro hoje tem várias pressuposições, entre elas o fato de a especialização derrotar a generalização: ``cuidado com a diversificação exagerada e sem controle".
Outra é a segmentação do negócio para torná-lo mais ágil: ``busque parcerias com os seus funcionários". Pois é. É possível que eu tenha falado muito, tenha sido pouco criativo. Para compensar, vou terminar com uma estorinha rápida.
A de um cidadão que, antes de ir embora par os Estados Unidos, deixou sob a responsabilidade de um empreiteiro a construção de sua casa. Qual não foi sua surpresa quando retornou e viu o resultado: a casa tinha portas tortas, janelas no teto, teto achatado.
Furioso, procurou o empreiteiro, que respondeu: ``Senhor, não é minha culpa. Entregaram-me uma planta amassada?". Essa estória é só para lembrar que quando alguém não for capaz de criar uma planta, ao menos tenha o cuidado e a atenção de desamassá-la antes de executar o trabalho.

ALEX JOSÉ PERISCINOTO é presidente da agência Almap/BBDO

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