São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 1994
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Hidrovia atrai R$ 1,5 bi em investimentos privados

LUIZ MALAVOLTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BAURU

Porta de entrada para o Mercosul, a Hidrovia Tietê/Paraná está atraindo R$ 1,5 bilhão em investimentos do setor privado para o interior de São Paulo.
A informação é do Consórcio Tietê/Paraná, integrado por 140 municípios paulistas.
O secretário-executivo do consórcio, Moacir Zanin, 35, afirmou que esses investimentos podem dobrar em 1995.
Segundo ele, isso deve acontecer se a empresa norte-americana Zurn-Nepco confirmar a intenção de construir quatro termoelétricas à gás ao longo da hidrovia.
``Os estudos já foram feitos e a Zurn-Nepco acredita que as empresas que estão se instalando ao longo da hidrovia vão precisar de energia", disse Zanin.
As quatro termoelétricas, que seriam construídas com recursos da própria empresa norte-americana, custariam US$ 1,6 bilhão.
Um estudo da ADTP (Agência de Desenvolvimento Tietê/Paraná) estima que em dez anos vão ser criados 200 mil empregos na região.
Segundo o gerente da ADTP, entidade mantida pelo setor privado, Artur Lenza, a região está iniciando um processo de expansão econômica.
``O Mercosul foi um achado para a hidrovia, pois vai integrar o Brasil à Argentina, Paraguai e Uruguai, abrindo um mercado para novos negócios."
O município de Pederneiras (345 km a noroeste de São Paulo) é um dos que mais têm recebido investimentos privados ao longo da hidrovia.
O prefeito da cidade, Giácomo Bertolini (PV), disse que em dois anos se instalaram na cidade mais de 70 empresas, de vários setores.
Entre as novas empresas estão a Lacta, a Comercial Quintella (cereais), a Estaleiro Torque, a Meca (navegação) e a Mauri, empresa australiana que produz fermento.
Só a Lacta, que transferiu sua unidade de São Paulo para Pederneiras, investiu US$ 35 milhões para ficar perto da hidrovia.
``Estamos deixando de ser uma cidade de trabalhadores rurais para nos transformar num pólo industrial forte", disse Bertolini.
A Comercial Quintella já colocou em funcionamento um terminal de cargas de soja e milho às margens do rio Tietê.
A empresa já transporta cereais pela hidrovia. Ela comprou oito comboios de barcos do Estaleiro Torque para o transporte de cereais pelo rio.
Até 1999, a empresa acredita que vai transportar por ano 4 milhões de toneladas de soja destinada à exportação.
A Quintella afirma que o transporte por hidrovia vai dar uma economia anual de US$ 80 milhões, tornando a soja mais competitiva no mercado externo.
O Frigorífico Bertim, com sede em Lins (453 km a noroeste de SP), já estuda o uso da hidrovia para trazer boi gordo do Mato Grosso.
O interesse pela hidrovia tem dado uma injeção de ânimo em pequenos municípios ribeirinhos, que viviam exclusivamente da agricultura.
As terras agrícolas, antes baratas, tiveram aumento real em dólar de até 500%, segundo o gerente de hidrovia da Cesp (Companhia Energética de São Paulo), Sérgio Macedo.
``Um hectare de terra perto do Tietê, em Pederneiras, por exemplo, custa hoje US$ 10 mil."
O prefeito de Bauru, Antônio Tidei de Lima (PMDB), 49, disse esperar ansioso uma decisão da General Motors de se instalar na cidade.
Equipe de executivos da GM esteve há poucos meses na cidade levantando a viabilidade de instalar uma filial e explorar a hidrovia.
``A intenção da GM é exportar seus carros da linha Corsa por barco para os países do Mercosul", disse Lima.
A GM faz mistério da decisão. O prefeito disse que a cidade teria ``40% de chances" de ficar com a filial.
Outra montadora que estaria interessada na hidrovia e no Mercosul é a Chrysler. O prefeito de Jaú, Waldemar Bauab (PSDB), disse que se reuniu quarta-feira em São Paulo com o presidente da empresa, Robert Eaton.
Inicialmente, a empresa montaria veículos importados dos Estados Unidos e que seriam comercializados no Mercosul.

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