São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 1994
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Craque do futuro bate campeão do presente

ALBERTO HELENA JR.

Atacante Sávio marca dois gols, derruba o último invicto do Brasileiro e encontra o caminho das estrelas
E caiu o último invicto. Na verdade, caiu o esquadrão do presente diante do esquadrão do futuro. Ou melhor ainda: o campeão do passado e inevitavelmente do presente sucumbiu diante do craque do futuro, Sávio, que fez os dois gols do Flamengo, sábado contra o Palmeiras.
Nem sei se esse time do Flamengo será mesmo um esquadrão, quando seus jovens jogadores ganharem experiência. Mas sei que o destino desse garoto Sávio está traçado. Sinto isso a cada momento que a bola chega a seus pés. Vejo isso nos movimentos espertos, lépidos, leves, inteligentes, agudos. Seu futebol se compõe dos elementos básicos que constroem os verdadeiros craques: reflexos apurados, velocidade, precisão nos remates.
Mais que isso: tudo é voltado em direção ao gol –a própria essência do jogo.
E me convenço disso ao olhar nos seus olhos, mesmo separado pela tela da TV. Ou talvez por isso mesmo, pois, para quem não sabe, a TV desvenda a alma da pessoa, a não ser que seja um artista, treinado à exaustão para fingir. Ou, então, o poeta, o fingidor segundo Pessoa.
Sávio tem cara de menino comportado, que sabe o que quer, e nisso lembra muito Zico, o maior ídolo flamenguista. Tem pinta de quem não vai se desguiar do caminho que as estrelas traçaram para ele e que deverão levá-lo de volta às estrelas.
Na verdade, o Flamengo não fez nada para vencer o jogo. O Palmeiras, favorito, dominou, criou mil chances e perdeu gols nos pés de quem nunca os perde, como, por exemplo, Evair. Mas perdeu. No contragolpe, o Flamengo criou duas chances. As duas com Sávio. Resultado: Flamengo 2 x 0 Palmeiras.
Dito isso, fica a questão; o que está acontecendo com esse Palestra, que é sabidamente o melhor em tudo no Brasil? Desfastio de tantas glórias recentes? Disputa de vaidades entre suas cintilantes estrelas? Ou os cuidados extremos dos adversários, que já descobriram seu jogo?
Tudo isso, mais um detalhe fulminante. Apesar da experiência de seus jogadores, é como brigar com bêbado na madrugada azarada. Se bater, é covarde. Se perder, é execrado. Pior: não acertar de jeito a porrada decisiva e, de repente, num golpe a esmo do adversário, ir a nocaute.
O Palmeiras, gente, perdeu uma. Repito: uma só partida, ao longo de todo o campeonato. Num jogo em que esteve a pique de ganhar várias vezes. E foi no Maracanã, onde o Flamengo reina, sobretudo, pelo peso da tradição.
Se a torcida palestrina se voltar contra o técnico, o time ou os jogadores, estará não só dando provas de burrice como, principalmente, municiando a virada de todos os inimigos que tentam deixar o Palmeiras lá embaixo, na lona.

Já o Santos deu sinais de que está vivo, batendo o Botafogo, que se insinua como o melhor dos cariocas. Continuo perplexo e fascinado com o trabalho de Serginho Chulapa na Vila.

O futebol alemão sumiu do vídeo convencional. Quem quiser, só na TVA. O diabo é que a TVA não chega aqui em Ibiúna. Como não chega à casa de milhares de paulistas. Quem sabe um convênio com a Cultura ou Gazeta, sei lá, para exibir o teipe do jogo à noite, hein?

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