São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 1994
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Sobrevivente arruma emprego e deixa o Rio

ANTONINA LEMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Há sete meses a vida de Wagner, 23, mudou. Ele, um dos sobreviventes da chacina da Candelária, deixou as ruas do Rio e foi morar em outro Estado, onde trabalha em um hotel de lazer (por uma questão de segurança, Wagner pede que o nome do hotel não seja divulgado).
Wagner foi encaminhado para o hotel pelo Centro Brasileiro de Apoio à Criança e ao Adolescente. Lá trabalha limpando vidros e tem casa e comida.
Wagner tem conseguido realizar o objetivo que tinha ao sair do Rio: esquecer. Hoje diz não lembrar muito bem da chacina que matou seus amigos. ``Só lembro dos corpos."
Nos dias que sucederam a chacina, Wagner diz que sentiu muito medo. Hoje, garante que o pânico passou.
``Agora está tudo normal", diz. Ou quase. Ele conta que se sente discriminado pelos colegas de trabalho.
``As pessoas sempre me encaram com desconfiança", diz.
Apesar de estar afastado das ruas, onde morava ``há muito tempo", Wagner não está muito satisfeito com a nova vida. ``Aqui é muito chato: não tem pagode nem baile funk".
Mas a maior saudade que ele sente é da namorada carioca, que ele conhece desde antes do massacre do ano passado.
Por causa dela, Wagner quer voltar para o Rio, arrumar um emprego, alugar um quarto e casar. ``Quero ter uma vida normal, ter uma casa, e depois uns filhos", diz.
Enquanto isso não acontece, escreve cartas regularmente para a menina e passa o tempo assistindo TV.
O trabalho e sua principal diversão, o futebol, estão temporariamente interrompidos após um chute mal dado que resultou em uma perna quebrada e em ``molho" de dois meses.
À polícia, principal suspeita da morte de seus amigos, Wagner reserva seu maior ódio. ``O que eu sinto por eles é muito mais que raiva."

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