São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 1994 |
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Sobrevivente arruma emprego e deixa o Rio
ANTONINA LEMOS
Wagner foi encaminhado para o hotel pelo Centro Brasileiro de Apoio à Criança e ao Adolescente. Lá trabalha limpando vidros e tem casa e comida. Wagner tem conseguido realizar o objetivo que tinha ao sair do Rio: esquecer. Hoje diz não lembrar muito bem da chacina que matou seus amigos. ``Só lembro dos corpos." Nos dias que sucederam a chacina, Wagner diz que sentiu muito medo. Hoje, garante que o pânico passou. ``Agora está tudo normal", diz. Ou quase. Ele conta que se sente discriminado pelos colegas de trabalho. ``As pessoas sempre me encaram com desconfiança", diz. Apesar de estar afastado das ruas, onde morava ``há muito tempo", Wagner não está muito satisfeito com a nova vida. ``Aqui é muito chato: não tem pagode nem baile funk". Mas a maior saudade que ele sente é da namorada carioca, que ele conhece desde antes do massacre do ano passado. Por causa dela, Wagner quer voltar para o Rio, arrumar um emprego, alugar um quarto e casar. ``Quero ter uma vida normal, ter uma casa, e depois uns filhos", diz. Enquanto isso não acontece, escreve cartas regularmente para a menina e passa o tempo assistindo TV. O trabalho e sua principal diversão, o futebol, estão temporariamente interrompidos após um chute mal dado que resultou em uma perna quebrada e em ``molho" de dois meses. À polícia, principal suspeita da morte de seus amigos, Wagner reserva seu maior ódio. ``O que eu sinto por eles é muito mais que raiva." Texto Anterior: Poluição `embaça' os olhos Próximo Texto: Glenn Close pode fazer `protetora' das crianças Índice |
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