São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 1994
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US3 chega ao Brasil com nova formação

JAN FJELD
ESPECIAL PARA A FOLHA

US3, o grupo de acid jazz com maior sucesso comercial –seu primeiro LP vendeu mais de 2 milhões de cópias– participa do Free Jazz Festival nos dias 26 em São Paulo e 27 no Rio. O US3 tem contrato exclusivo com o selo de jazz norte-americano Blue Note e direito de samplear qualquer coisa de seu catálogo.
A banda está vindo sem samplers e sem os seus produtores inventores, Mel Simpson e Geoff Wilkinson. Em compensação, vem uma banda com nove integrantes, incluindo três rapers, dois saxofonistas, trumpetista, baixista, tecladista e baterista.
Simpson, 37, falou à Folha de seu estúdio Flame, em Londres, onde ele e Wilkinson estão trabalhando na produção do primeiro CD dos Ragga Twins pelo selo dance, Positiva, da gravadora EMI, e do novo LP da US3.

Folha - O que é o US3 –uma banda ou um projeto de estúdio?
Simpson - Começou como um projeto de estúdio. Antes de conseguirmos o contrato com o Blue Note, nos chamamos de NW 1 e fizemos um compacto chamado ``The Band Played the Boogie" baseado num sample de Sookie Sookie de Grant Green (Blue Note). Colocamos um saxofonista (Ed Jones) para tocar, convidamos um rapper, Bom 2 B, e usamos uma batida hip-hop pesado. Isto foi em 91 e fizemos sucesso nos clubes londrinos. Aí a gravadora Capitol, dona da Blue Note, ficou interessada em nosso trabalho.
Folha – Daí nasceu a banda?
Simpson – Nunca foi nossa intenção tocar ao vivo. Só aconteceu depois do sucesso do álbum, que começou no Japão. A gravadora sentiu necessidade de dar alguma projeção para o US3, alguém para sair e vender discos.
Quando os japoneses pediram para nós irmos para lá tocar, entramos em pânico. Como iríamos tocar os samples? Levei alguns teclados, Geoff alguns toca-discos, tínhamos um trompetista, um saxofonista e dois rappers. Trabalhamos em cima de bases pré-gravadas. Usávamos alguns samples também pré-gravados –sim, foi uma espécie de enganação (risos). Mas funcionou bem, ficamos surpresos com a receptividade.
Quando voltamos do Japão, começamos a montar a banda propriamente dita. Adicionamos um baixista, um percussionista, mais um rapper, mais sopros.
Folha – Quando foi isso?
Simpson – No meio do ano passado. Aí deixamos de usar qualquer tipo de som pré-gravado, adicionamos uma ótima baterista, Sheryl Elleyne, um tecladista, Tim Vine, e agora é tudo ao vivo.
Folha – Além de samplear jazz, quais as semelhanças entre US3, Guru e Digable Planets?
Simpson – Acho que essas pessoas em diferentes partes do mundo responderam simultaneamente a um tipo de direção da música. Era uma tendência dentro do hip-hop, que já passou a fase funky, tipo James Brown, e estava procurando estilos para se fundir.
Folha – Como está o trabalho com o novo disco?
Simpson – Temos gravadas as bases para umas oito ou nove faixas, mas ainda é cedo para falar. Agora temos acesso também aos arquivos antigos, que ficam num prédio em Los Angeles, com material inédito.
Folha – Quem recebe os direitos autorais?
Simpson – A viúva de Art Blakey recebe todas as vezes que alguém compra um disco. Herbie Hancock recebe sempre que ``Cantaloop" toca nas rádios. Muita gente diz que sampleia por respeito e admiração. Acho que, de fato, samplear alguém sem pagar os direitos é falta de respeito –é roubo.

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