São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 1994
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Autoproteção

O mundo econômico não é feito apenas de produção e consumo. Completa-se e talvez até esteja cada vez mais calcado no sentimento de cada agente. Consomem-se estilos e marcas, o mundo material só faz sentido embalado em formas e imagens que apelam ao inconsciente tanto ou mais que ao consciente.
Entretanto, nos últimos anos, desenvolveu-se no mundo todo uma nova relação entre produtos e agentes econômicos. É também uma revolução comportamental que coloca em primeiro plano, no desenho, na divulgação e no uso de cada produto o respeito ao ambiente, à segurança e à saúde. Os bens já não são mais avaliados apenas como caros, baratos, atraentes ou defasados. Mas também como seguros, limpos ou saudáveis.
Essa mudança de padrão cultural é particularmente evidente no caso dos automóveis. Vê-se em todo o mundo uma ênfase maior na sua segurança: pára-choques maiores, ``air bags", cintos de segurança automáticos tornaram-se tão cruciais na venda de um automóvel quanto o seu desenho, cor ou preço. E essa relevância de itens de segurança não é gratuita: há muito se percebeu que o carro pode ser uma arma fatal, capaz de matar e deformar mais que muitas guerras.
No Brasil, como sempre, essa mudança de hábitos tem sido muito mais lenta. Uma boa iniciativa nessa direção, entretanto, foi a aprovação pela Câmara Municipal de São Paulo de lei obrigando o uso do cinto de segurança na cidade.
De acordo com a CET, para 81% dos motoristas paulistanos, o cinto de segurança é algo tão decorativo quanto um adesivo ou um chaveiro. Só na cidade de São Paulo morrem atualmente 900 pessoas por ano vítimas de acidentes de trânsito –número que seria 50% menor se as vítimas usassem cinto.
A lei, ora a lei. Para que ela se cumpra é preciso muito esclarecimento. Mas uma lei certa já é meio caminho rumo à reeducação dos costumes. E evidencia também no Brasil essa paradoxal necessidade de nos protegermos dos objetos criados para facilitar a nossa vida.

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