São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

De volta para o passado

DE VOLTA PARA O PASSADO

O conceito de país em via de desenvolvimento naturalmente implica a noção de que as condições econômicas, o volume de riqueza e o nível geral de vida de uma população passam por uma melhoria progressiva –que tenda, no limite, para aqueles verificados nas chamadas nações desenvolvidas. Pois os dados recentemente divulgados pelo IBGE, que aliás não fazem mais do que ratificar a sensação geral dos cidadãos, põem em dúvida se o Brasil da última década e meia merece mesmo ser chamado de país em desenvolvimento.
Note-se ainda que a renda média (de US$ 2.881 em 93, segundo o IBGE) é uma ficção. Útil, é verdade, mas uma ficção. Na prática, a péssima distribuição de renda do país guarda para a maioria dos habitantes uma parcela menor da renda do que a média estatística. Mas a inflação alta que marcou os anos de 80 a 93 tem o efeito de concentrar renda. Assim, é provável que essa camada mais pobre que a média tenha também perdido proporcionalmente mais do que a média.
É impressionante nesse sentido destacar que, num período similar (de 80 a 92), enquanto o Brasil andava para trás, os sul-coreanos viram sua renda média saltar espetaculares 166%. País de cultura mais próxima à do Brasil, o Chile elevou seu PIB per capita em 54%.
Mas os dados do IBGE contêm ainda mais razões para preocupação. As perspectivas de crescimento econômico no futuro dependem em larga medida, como é óbvio, do nível de investimentos realizados no presente. Pois esse nível despencou no ano passado para 13,9% do PIB, o segundo pior patamar registrado desde 70. Isso quando taxas históricas do país nesse quesito superam 20% do PIB.
Recuperar o investimento é fundamental para que o país possa recuperar o tempo perdido, mas para isso é indispensável um horizonte de estabilidade que inspire confiança. É por isso que o controle da inflação torna-se absolutamente prioritário. Só assim o Brasil poderá começar a resgatar sua enorme dívida social, começando por retornar aos níveis de riqueza, ou de pobreza, per capita que já tinha em 1980.

Texto Anterior: Autoproteção
Próximo Texto: Lá fora, sinal amarelo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.