São Paulo, quinta-feira, 27 de outubro de 1994
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Bulhões se rende após cerco

ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACEIÓ

Bulhões se rende apóscerco
Condenado por tráfico de drogas, filho do governador de Alagoas se entrega após cerco da PF
O filho do governador de Alagoas, Geraldo Bulhões (PSC), Gustavo, 26, decidiu se entregar às 16h de ontem (17h em Brasília), após ficar cercado 23 horas pela Polícia Federal na residência oficial do governo, em Maceió.
Ele foi condenado a seis anos de prisão pela Justiça pernambucana após ser acusado de tráfico de maconha. Gustavo foi recolhido ao Manicômio Judiciário do Estado, onde ficará à disposição da Justiça. Dentro de dois a três dias, deve ser transferido para Pernambuco. Hoje, seu advogado deve entrar com recurso contra o pedido de prisão.
A detenção de Gustavo no manicômio foi considerada uma vitória judicial do governador Bulhões. Desde a última sexta-feira, quando a PF recebeu o mandado de prisão de Gustavo, os Bulhões exigiam que o filho não ficasse detido em prisão comum.
O cerco à casa de Bulhões foi marcado por ameaças de confronto entre a PF e as Polícias Civil e Militar –as duas últimas comandadas pelo governador.
A PF cercou a casa colocando carros nos três portões, com o objetivo de impedir uma tentativa de fuga de Gustavo.
O cerco começou às 17h de anteontem (18h em Brasília), depois que agentes da PF, de campana na casa, conseguiram ver Gustavo tomando cerveja com os seguranças do governador. Geraldo Bulhões não se encontrava na casa.
O clima começou a ficar tenso às 20h de anteontem (21h em Brasília), quando o comandante da PM, coronel Edvaldo Terto da Silva, enviou 20 homens do Pelotão de Choque para garantir que a PF não invadisse a casa.
Após a chegada da PM, começaram as negociações para a rendição. Na casa do juiz Hamilton Carneiro, encarregado pelo cumprimento do mandado de prisão, se reuniram ontem de madrugada o secretário da Segurança Pública, Ruben Quintela, o comandante da PM e promotor Luís Carnaúba.
Na reunião, Quintela e o coronel Terto convenceram o juiz a pedir à PF a suspensão do cerco.
Foram usados dois argumentos. O primeiro sobre a possibilidade de haver um confronto entre as polícias. O segundo dizia respeito ao fato de que Quintela se comprometeria a entregar Gustavo.
Na manhã de ontem, o governo se manifestou pela primeira vez. ``O governador é pacífico e não haverá derramamento de sangue", afirmou Rosivan Wanderley, secretário de Comunicação.
No início da tarde, o secretário Quintela e José Guedes, superintendente da PF alagoana, começaram a alinhavar o acordo que acabou na rendição de Gustavo.
Pelo acordo, Gustavo não seria algemado nem transportado por camburões. A saída dele seria discreta. O acordo só foi firmado depois que o juiz Carneiro concordou que o local ideal para a prisão de Gustavo seria o Manicômio Judiciário do Estado.
Segundo o advogado, por ser epilético, Gustavo não poderia ficar em uma penitenciária.
Gustavo acabou detido e transportado em um Tempra da PF. No percurso, porém, os agentes federais não cumpriram a parte do acordo que previa o transporte discreto do rapaz. Além de ligarem a sirene, o carro que levava o filho governador foi cercado e acompanhado por cinco veículos da PF, dois da PM e dois da Polícia Civil, chamando atenção das pessoas que estavam nas ruas.

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