São Paulo, quinta-feira, 27 de outubro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O real é irreversível

LUÍS NASSIF

Não há base técnica na suposição de que o real esteja no fim. Na verdade está-se apenas no início de um longo e irreversível processo de estabilização.
Espoucam aumentos de preços em muitos setores, é verdade. Além disso, o espírito "zen" da equipe econômica fez com que só despertassem para a expansão do consumo quando a locomotiva do ágio já estava bufando no seu cangote. Vai implicar problemas adicionais mais à frente, para os setores que puxaram os preços. Mas a estabilização continuará.
É importante que os setores que estão puxando preços entendam que a fixação do câmbio é irreversível. Câmbio valorizado, mais redução de alíquotas de importação, mais desburocratização do comércio exterior, mudam completamente o cenário. Os preços internacionais tornam-se o referencial absoluto na fixação dos preços internos.
Antes, passada a fase de carência de cada plano, os setores mais organizados (tanto na parte sindical quanto empresarial) saíam na frente puxando salários e preços e, através dos mecanismos de indexação, passando ao conjunto de consumidores o mico da volta da ciranda inflacionária. O único risco era ficar fora de mercado, se os demais preços não acompanhassem.
Mas a inflação explodia novamente, com todos os preços aumentando, os que saíram na frente ficavam no melhor dos mundos.
Com a abertura, esse jogo acabou.
Vai-se ter até o final do ano movimentos localizados de altas. Formar-se-ão bolhas especulativas que mais à frente refluirão, porque o câmbio impedirá o conjunto de preços de acompanharem os líderes da manada inflacionária. O parâmetro não é mais o IGP, Fipe, Dieese –a não ser para salários. Mas com os salários despregando-se do câmbio, aumentarão os custos das empresas –e o tombo mais à frente, com a onda importadora.
Hoje em dia o grande comércio tem razoável grau de organização. E há estruturas gigantescas de atacadistas abastecendo e organizando o pequeno comércio do interior. Esse pessoal já está há tempos estudando o mercado internacional e começa a fechar os primeiros contratos de importação em áreas antes intocáveis.
Quando pegarem o ritmo, a empresa que permitiu que sua estrutura de custos inflasse, vai passar apertado.

Texto Anterior: Receita multa 40 revendas ao combater ágio
Próximo Texto: Carne e feijão importados vão custar 25% menos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.