São Paulo, quinta-feira, 27 de outubro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Versão intimista da ``Carmen" de Bizet estréia no Sesc Ipiranga

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Como parte de seu projeto de popularizar o repertório lírico, o Sesc Ipiranga estréia hoje ``Carmem, A Paixão Segundo Dom José". Trata-se de uma versão abreviada e com recitativos em português da ópera ``Carmen", de Georges Bizet (1838-1875), que o diretor Naum Alves de Souza qualifica de ``bem mais calorosa e intimista" na relação emotiva do público com os personagens.
E, de fato, em lugar de uma bocarra de cena aberta para 3.000 espectadores, a montagem se dá num espaço acolhedor em que a platéia possui apenas 213 lugares. A orquestra é substituída pelo piano de Maria Emília Moura.
Não há figurantes ou bailarinos e os personagens, do libreto de Meilhac e Halévy, são reduzidos de oito para quatro, aliás os únicos que verdadeiramente conduzem a ação no enredo em que Merimée fez de Carmem um dos protótipos controvertidos do feminino.
A direção musical é do maestro Abel Rocha e o elenco reúne cantores que faziam os melhores momentos do Teatro Municipal, quando seus corpos estáveis ainda tinham a oportunidade de montarem algum espetáculo lírico.
É estimulante avaliar até que ponto o Sesc Ipiranga transforma, em razão da domesticidade de seu ambiente, a grandiloquência que a cigana Carmem acaba por impor de sua idéia de amor e liberdade.
``É uma mulher que tem vontade própria, que é movida por um instinto de autopreservação e por sua índole selvagem", diz a soprano dramático Eloisa Baldin, que interpretará o papel-título.
José, o militar que deserta para acompanhar a cigana em sua vida errante e que acaba por assassiná-la por ciúmes, é cantado pelo tenor José Marson. Para ele,``toda sedução tem uma perversidade intrínseca, e, no fundo, esta ópera é a reportagem de uma desgraça".
O barítono Luis Orefice interpreta o toureiro Escamillo, ``que se interessa por Carmem e a seduz porque ela é uma cigana famosa, enquanto ele próprio seria, hoje, famoso e admirado como um piloto de Fórmula-1", diz o cantor.
Há por fim a soprano Rosana Lamosa, que interpreta Micaela, a noiva de Escamillo que vai buscá-lo no acampamento de ciganos para anunciar a morte da mãe dele.
``Não acredito que Micaela seja uma bobinha, como alguns desejam que ela seja. Ela é o feminino que contrasta com Carmem, mas ao mesmo tempo, como Carmem, não tem medo de nada", diz.
A ``Carmem" das superproduções é tão distante quanto um personagem cinematográfico enquadrado num plano panorâmico. É um espetáculo bonito, bem cantado e, sobretudo, singelo em suas boas e grandes intenções.

Espetáculo: ``Carmem, A Paixão Segundo Dom José"
Onde: Sesc Ipiranga, rua Bom Pastor, 822 (tel. 273-1633)
Quando: Hoje, amanhã e sábado, às 21h.
Quanto: R$ 3,50 e R$ 1,50 (comerciários e estudantes)

Texto Anterior: Desfile comemora um ano de `Atitude'
Próximo Texto: Pinky Wainer expõe trabalhos de acrílico sobre tela pela primeira vez
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.