São Paulo, quinta-feira, 27 de outubro de 1994
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Pinky Wainer expõe trabalhos de acrílico sobre tela pela primeira vez

KATIA CANTON
ESPECIAL PARA A FOLHA

Prepare-se para conhecer uma nova Pinky Wainer. Ela, que, desde a primeira exposição, em 1984, foi aclamada por suas singelas e inconográficas aquarelas, mostra, pela primeira vez, aos 40 anos, 21 trabalhos, todos em tela.
Em segundo, porque os elementos simbólicos que Pinky construiu em suas aquarelas –os vestidos, as árvores, a espinha de peixe, a estrela de David– estão presentes também nessas telas. A diferança é que, se nas aquarelas, aquelas imagens delineavam uma narrativa específica, no caso, formavam uma arqueologia imaginária, que a artista batizou como um passado inventado, aqui, nas telas, os símbolos estão mais jogados, fluidos. Cabe ao espectador montar seu próprio quebra-cabeças narrativo.
A mudança de Pinky para as telas é, antes de tudo, um ato de coragem. ``Aprendi a pintar com a liberdade da autodidata que sou. Mas nem chegava perto das telas. Era uma questão de pânico."
Tudo mudou quando, em 1992, olhando um livro de obras sobre Paul Klee, Pinky percebeu que o pintor misturava tela, papel, óleo, crayon, guache, pastel. E pensou: ``se ele podia misturar materiais e texturas, por que não eu?"
As telas expostas na Galeria São Paulo trazem o frescor da tentativa. Transpiram os diversos caminhos de uma artista vigorosa, que não se cansa de procurar novas linguagens.
Há obras grandes, outras pequenas, algumas com brilhantes fundos vermelhos e azuis, outras dissolvidas no encantamento das matizes de branco.
Como fio condutor, a exposição ganhou o nome de uma pequena e delicada tela: ``Retrato de Artista". Ali, o fundo branco recebeu uma película espelhada, onde, acima há uma coroa dourada. Cada espectador se vê refletido e coroado na tela. A mesma coroa aparece em todas as outras 20 telas.
Obviamente, pode-se ler ironia neste jogo de reflexos. Mas Pinky Wainer, antes de crítica mordaz, é poética contadora de histórias. Para ela, a coroa é uma conquista.
``Em 92 pintei aquarelas figurando apenas rainhas. Rainhas com manto e coroas. Eu as conquistei. E por isso, ganhei as coroas, que agora repasso", explica.
No conjunto da exposição, algumas obras têm preocupações claramente narrativas, jornalísticas. As telas ``Capaz de Matar por Amor" e ``Céu", exibem tatuagens de presidiários. Em outras, ela se mostra mais solta, utilizando uma simbologia que, para ela, reflete o simples prazer de pintar. Esse é o caso de duas telas com a imagem da pantera-mãe, figura que Pinky trata como um totem e não revela seu significado a ninguém.
Em qualquer dos casos, a artista nunca envereda para o figuratismo digerível. Jamais abandona um trabalho laboratorial, em que se propõe a descobrir as possibilidades matéricas da pintura.
Pinky Wainer cola pedaços de gaze em suas telas, acumula camadas de cores e depois arranha o fundo, para que as ranhuras revelem o palimpsesto. ``A tela requer vivência. Os erros, acumulados no fundo, recobertos de novas tentativas de tintas, carregam a obra de sedimento. E isso dá mais profundidade ao trabalho final", conclui.

Exposição: Pinky Wainer - Pinturas
Quando: de hoje até 15 de novembro
Onde: Galeria São Paulo (rua Estados Unidos, 1.456, tel. 011/852-8855)
Horário: de segunda a domingo das 10h às 22h

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