São Paulo, quinta-feira, 27 de outubro de 1994
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Um bode a menos

Depois de uma sucessão de trombadas entre governo e empresários, o ministro Ciro Gomes deixou afinal de lado a retórica beligerante e anunciou medidas positivas que, ao menos em parte, podem significar algum apoio à produção.
Cogita-se de uma medida provisória que viria a isentar os exportadores do pagamento de PIS e Cofins. O ministro anunciou também que os financiamentos para a compra de táxis ficarão fora da restrição de prazo máximo de três meses imposta no pacote da semana passada. É pouco, mas já é um começo de revisão das restrições.
O ministro parece assim lançar mão de uma célebre máxima de Maquiavel: fazer o mal todo de uma só vez e depois, aos poucos, distribuir benesses e compensações. As medidas da semana passada turvam o horizonte empresarial, desestimulando o aumento da produção com o encarecimento do crédito. As novas medidas propiciariam alívios tópicos e localizados, em especial para exportadores, mas ainda assim alívios.
O estímulo aos exportadores parece especialmente oportuno. Em primeiro lugar porque é irracional exportar impostos quando em todo o mundo a tendência é justamente a oposta: desonerar a produção voltada aos mercados globais. Cada Estado nacional tem feito o que pode para garantir ou incrementar a competitividade das empresas.
Um segundo motivo para acudir os exportadores é o próprio Plano Real: houve não apenas valorização cambial como têm ocorrido aumentos salariais e, com o pacote da semana passada, retirou-se ao menos em parte a compensação financeira das antecipações de contratos de câmbio. A isenção ajuda a aguentar o novo regime cambial.
O mérito dessas iniciativas não deve, ainda assim, ofuscar o fato de que seja no câmbio, seja nos salários e principalmente no que toca a impostos o ambiente ainda é de incômodo e incerteza. Em outras palavras, se é capaz de fazer o bem, deveria o governo estar bem consciente dos muitos males acumulados. Ainda há muitos bodes na sala.

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