São Paulo, quinta-feira, 27 de outubro de 1994
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Mais cidadania

A política brasileira sempre foi tradicionalmente marcada por um elevado grau de autoritarismo. O único país das Américas que, independente, adotou a forma de império em vez de uma república, teve uma ``democracia" censitária, de 1898 até 1930, e desde então conviveu com apenas cinco presidentes eleitos diretamente, intercalados por períodos ditatoriais.
Não surpreende assim que o Estado no país tenha assumido historicamente, para a maioria da população, ares de entidade distante, quase inacessível –ainda que com acesso quase ilimitado às suas vidas. A decorrência lógica e lamentável dessa imagem é que boa parte da sociedade acabou desenvolvendo uma certa passividade resignada, que culpa o ``governo" por todos os seus problemas, mas não sabe como –ou nem sequer tenta– dar a seus reclamos maiores consequências práticas.
Essa mentalidade sem dúvida vem dando animadores sinais de mudança já há alguns anos. Os movimentos pelas diretas e pelo impeachment levaram centenas de milhares de pessoas às ruas, revelando que cidadãos também podem ser agentes do processo político. Ao mesmo tempo, diversas entidades da sociedade civil começaram a despontar como participantes ativos da vida pública nacional. Ainda assim, seria ingenuidade imaginar que já existe disseminada no país a consciência efetiva da cidadania, a percepção de que, como eleitor e como contribuinte, o cidadão tem direito de dirigir-se ao Estado, defender seus interesses, cobrar providências e fiscalizar sua atuação –como ocorre em países desenvolvidos.
É como uma pequena contribuição a esse lento processo que este jornal lançou o projeto ``Cidadão Folha". A iniciativa, inédita, propõe-se a aproximar os cidadãos do debate sobre os problemas do Estado de São Paulo, apontando suas prioridades e sugerindo soluções. Alguns participantes serão colocados em contato direto com os candidatos ao governo paulista.
Embora de alcance necessariamente limitado, a proposta aponta na direção indispensável do fortalecimento da noção de cidadania, de uma sociedade que reclame para si um papel ativo na construção de um país mais justo.

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