São Paulo, sexta-feira, 28 de outubro de 1994 |
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Eleição de FHC custou uma nota preta
BARBARA GANCIA
Aquela afirmação sarcástica do presidente eleito sobre o aumento no preço da dúzia de ovos, feita durante a festinha na Bourbon Street que comemorou sua vitória nas eleições, demonstra que Fernando Henrique consegue ser príncipe e Maquiavel –ao mesmo tempo. Ele sabe que a fugaz bonança no bolso do eleitorado foi uma fabricação para elegê-lo. Os economistas e empresários que tremiam na base diante da possibilidade de uma vitória de Lula também sabem do que estou falando. A condução eleitoreira do Real colocou em risco o êxito de um plano ideal. Para eleger FHC, o governo optou por acabar prematuramente com a URV. Assim, a fase de indexação, que deveria ter durado um ou dois anos, foi abortada com ``timing" perfeito para garantir a vitória do candidato tucano. Além disso, o custo global do plano de FHC é muito, muito alto. Calma. Eu explico o que todos os especialistas sabem, mas não tiveram coragem de dizer por medo de que o PT ganhasse as eleições: para fazer o plano funcionar, o governo amealhou reservas nunca vistas. No entanto, não são as exportações as responsáveis por essas reservas e sim os juros incríveis pagos pelo governo. Você já parou para pensar como é possível o Brasil pagar os juros mais altos do planeta? Como é possível o Real valer mais que o dólar? Como é possível que o governo lute com unhas e dentes contra a inflação e continue a imprimir dinheiro para ajudar os falidos bancos estaduais? Não será artificial a inundação de dólares no mercado? Não terá a ajuda aos bancos sido motivada por medo de que quebrem e que a poupança seja transformada em consumo? Estamos caminhando sobre ovos. Só nos últimos dias, estima-se que, na troca de papéis estaduais por federais, o governo arcou com uma conta de cerca US$ 10 bilhões. Some-se a isso outros tantos bilhões decorrentes do pagamento de juros e temos aí uma conta salgada. Salgada demais, o leitor há de convir, só para ter um presidente príncipe em vez de um metalúrgico. Resta saber se vale a pena. Texto Anterior: OAB quer Estado de Defesa no Rio Próximo Texto: Lançando moda; Roubada; Ponto alto Índice |
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