São Paulo, sexta-feira, 28 de outubro de 1994
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Eleição de FHC custou uma nota preta

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Passados 26 dias da eleição, o Plano Real dá sinais de que não existe cura indolor para trinta e tantos anos de desmandos na economia.
Aquela afirmação sarcástica do presidente eleito sobre o aumento no preço da dúzia de ovos, feita durante a festinha na Bourbon Street que comemorou sua vitória nas eleições, demonstra que Fernando Henrique consegue ser príncipe e Maquiavel –ao mesmo tempo.
Ele sabe que a fugaz bonança no bolso do eleitorado foi uma fabricação para elegê-lo.
Os economistas e empresários que tremiam na base diante da possibilidade de uma vitória de Lula também sabem do que estou falando. A condução eleitoreira do Real colocou em risco o êxito de um plano ideal.
Para eleger FHC, o governo optou por acabar prematuramente com a URV. Assim, a fase de indexação, que deveria ter durado um ou dois anos, foi abortada com ``timing" perfeito para garantir a vitória do candidato tucano.
Além disso, o custo global do plano de FHC é muito, muito alto.
Calma. Eu explico o que todos os especialistas sabem, mas não tiveram coragem de dizer por medo de que o PT ganhasse as eleições: para fazer o plano funcionar, o governo amealhou reservas nunca vistas. No entanto, não são as exportações as responsáveis por essas reservas e sim os juros incríveis pagos pelo governo.
Você já parou para pensar como é possível o Brasil pagar os juros mais altos do planeta? Como é possível o Real valer mais que o dólar? Como é possível que o governo lute com unhas e dentes contra a inflação e continue a imprimir dinheiro para ajudar os falidos bancos estaduais?
Não será artificial a inundação de dólares no mercado? Não terá a ajuda aos bancos sido motivada por medo de que quebrem e que a poupança seja transformada em consumo? Estamos caminhando sobre ovos.
Só nos últimos dias, estima-se que, na troca de papéis estaduais por federais, o governo arcou com uma conta de cerca US$ 10 bilhões.
Some-se a isso outros tantos bilhões decorrentes do pagamento de juros e temos aí uma conta salgada.
Salgada demais, o leitor há de convir, só para ter um presidente príncipe em vez de um metalúrgico. Resta saber se vale a pena.

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