São Paulo, sexta-feira, 28 de outubro de 1994 |
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Noite de rap vira festa dançante
CARLOS CALADO
Durante mais de quatro horas de música, os shows de Guru, Us3 e Digable Planets transformaram a noite em uma grande festa dançante, que nem mesmo as inconvenientes mesas do Palace conseguiram impedir. Para quem se interessa pelos caminhos do jazz e da música popular contemporânea, foi também uma noite bastante didática. Cada uma a seu modo, as três bandas revelaram a quantas anda a polêmica fusão do jazz com o rap e o hip hop. Mesmo cultuando os grandes mestres do jazz em suas letras (``Jazz Thing", último número do show, funciona como um manifesto), Guru mostrou que sua fórmula de ``hip hop jazz" ainda é parcial. Nela, o rap soa totalmente hegemônico. Reverente ao extremo, o rapper nova-iorquino elogia, abraça e chega até a enxugar o suor da testa dos jazzistas Donald Byrd (trompete) e Derrick Davis (sax). Porém, não permite que eles exerçam mais que uma função decorativa em sua música, estruturada sobre os velhos ``samples" e ritmos eletrônicos do hip hop mais tradicional. Exatamente o oposto do exibido pela banda inglesa Us3, que dispensou DJ e sons pré-gravados em troca de pura música ``ao vivo". Usando bateria de verdade (num show à parte da baterista Cherryl Alleyen), contrabaixo e até mesmo um órgão Hammond, o Us3 provou que avançou bastante em sua concepção de jazz rap. Entre os vocais metralhados pelo rapper Kobie Powell, realmente há espaço para improvisos dos músicos da banda. Aqui o jazz é estrutura, não um simples enfeite melódico. Por um caminho semelhante segue o Digable Planets, que mesmo sem abandonar a batida eletrônica também utiliza uma seção rítmica ``ao vivo". Ainda que os ``riffs" de sua seção de sopros (decalcados de Charlie Parker, Dizzy Gillespie e companhia) soem artificiais às vezes, a evolução de sua fusão de hip hop e bebop é bastante sensível. Se a reação da platéia também servir de parâmetro, no final das contas o Us3 saiu do palco levando vantagem. Porém, cada um em seu estilo, Guru e Digable Planets certamente estão contribuindo para aproximar a garotada de hoje do jazz de ontem. O que já não é pouco. Texto Anterior: Free Jazz festeja dez anos com maratona Próximo Texto: Emissora portuguesa afirma que moverá ação contra Rede Globo Índice |
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