São Paulo, sexta-feira, 28 de outubro de 1994
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FHC e o PT

CLÓVIS ROSSSI

Clóvis Rossi
PRAGA – O presidente eleito Fernando Henrique Cardoso aproveitou o cenário de um campo de concentração na cidade de Terezín (a 60 km de Praga) para refletir sobre as relações entre o PT e a social-democracia.
Começou por dizer que o PT ``deveria ler muito" sobre a história do período que precedeu a Segunda Guerra Mundial, marcado por um entrechoque violento de posições entre comunistas e sociais-democratas. Nas dobras dessa colisão, foi-se incubando o ovo da serpente nazista, afinal responsável por horrores como os que se podem, hoje, visitar em Terezín.
Por essa cidade, transformada entre 1941 e 1945 em gueto para judeus de diferentes países europeus, transitaram umas 140 mil pessoas, das quais 34 mil morreram na própria Terezín e 83 mil durante o transporte para outros campos.
Pois foi à porta da ``Pequena Fortaleza", prisão política da Gestapo, que FHC reclamou que, a partir das leituras antes sugeridas, ``o PT deveria aprender a bater não em quem está ao lado, mas em quem está em frente".
Há, aí, uma impropriedade óbvia. Não há o mais remoto parentesco entre o PT e os PCs europeus dos anos 30, graniticamente moldados pelo stalinismo. Impropriedade à parte, é curioso tentar adivinhar onde quer chegar FHC.
O tema PT e o inimigo errado já havia sido por ele tratado na quarta-feira. Queixara-se, então, de duas coisas: de que, na campanha municipal de 1985, o PT não o apoiou contra Jânio Quadros (o inimigo certo). E de que, na atual campanha, o PT bateu mais em José Serra, candidato ao Senado pelo PSDB, do que no delegado Romeu Tuma (PL), ambos afinal eleitos.
Resta agora saber o que espera o presidente eleito do PT. Afinal, a aliança do PSDB com o PFL turvou as águas. Quem, pela própria visão de FHC, está `ao lado" do PT (o PSDB), aliou-se a quem sempre esteve ``em frente" (o PFL).
Como fazer nessa situação é uma pergunta que ficou sem resposta.

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