São Paulo, domingo, 30 de outubro de 1994
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Câmbio ficará estável até final do ano

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

As medidas adotadas pelo governo no câmbio vão garantir estabilidade nas cotações até o fim do ano. A avaliação é da Consultoria Líbero, do ex-diretor do Banco Central Emílio Garófalo Filho.
``A taxa não vai desabar ou explodir. Dá para virar o ano próxima de R$ 0,85 por dólar", diz.
Para Garófalo, o maior problema do atual modelo cambial é o fato de o governo ser obrigado a manter uma política monetária apertada e ``pagar juros tão altos".
O ex-diretor do BC acredita que, no início do próximo governo, as reformas estruturais poderão abrir espaço para uma política de juros menos agressiva, o que possibilitaria um mercado cambial ``mais equilibrado".
A queda das cotações, para Garófalo, não reflete o movimento da oferta e da demanda, mas as expectativas de ingresso de capitais com a vitória eleitoral de Fernando Henrique Cardoso. ``As medidas adotadas administram estas expectativas", afirma.
A Líbero preparou estudo tentando medir o impacto quantitativo de cada uma das medidas adotadas pelo BC. São estes os resultados:
1. O exportador é obrigado a discriminar, ao fazer um ACC (Adiantamento do Contrato de Câmbio), qual produto embarcará.
Esta medida reduz em muito o chamado ``mercado de performance". Nele, a empresa negociava, mediante o pagamento de uma taxa, o seu ACC com outra, que dispunha da mercadoria para exportar. Segundo a avaliação da Líbero, esta medida reduz em 5% o volume de ACCs, aproximadamente US$ 150 milhões por mês.
2. O BC vetou a possibilidade de pré-pagar as operações de longo prazo de exportação.
Esta medida tem um impacto um pouco maior: deixam de passar pelo mercado aproximadamente US$ 220 milhões por mês.
3. O governo passou a cobrar 9% de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) no ingresso de recursos para operações de renda fixa.
A medida, diz o estudo, matou esta alternativa de entrada.
4. O governo reduziu os prazos dos ACCs. Mas, segundo o estudo, a redução não vai afetar o volume negociado.
5. O governo passou a cobrar 7% de IOF sobre o lançamento de títulos no exterior.
Mas o lançamento de eurobônus deve continuar. É que o compulsório de 15% sobre as operações de crédito (inclusive ACCs) torna competitivo o repasse dos recursos captados no exterior.
6. O governo passou a cobrar 1% de IOF sobre o ingresso de recursos nas Bolsas.
Segundo o estudo, a medida não tem qualquer impacto.
7. O governo liberou as compras de dólares para o turismo.
Se o fluxo de turistas para o exterior aumentar no final de ano, a medida ajuda a criar ágio (diferença) entre o dólar-turismo e o câmbio comercial. ``O que é bom. Significa que aumenta o espaço para o BC vender dólares."
8. O BC instituiu compulsório de 30% sobre as operações de assunção de dívida.
Os bancos têm três alternativas (leia texto abaixo) diante desta medida. O impacto sobre o mercado será nulo se a opção adotada for a transferência da assunção para empresas não-financeiras do mesmo grupo.
Em resumo, as medidas afetam claramente o movimento dos exportadores, tornando o mercado mais equilibrado –já que as saídas continuam superando os ingressos financeiros.

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