São Paulo, domingo, 30 de outubro de 1994
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Consumo deve subir mesmo com o arrocho

FIDEO MIYA
DA REPORTAGEM LOCAL

``O Natal deste ano vai ser fantástico". A previsão é do economista-chefe da Brasilpar Administração de Recursos, Flávio Nolasco, que descarta a hipótese de uma recessão por causa das medidas baixadas pelo governo nos últimos dias 20 e 21 para conter a explosão no consumo prevista para o último trimestre do ano.
A pesquisa mensal da Federação do Comércio paulista mostra que o faturamento real do comércio varejista na região metropolitana de São Paulo cresceu 26,96% e 26% em agosto e setembro últimos, respectivamente, em relação aos mesmos meses de 1993.
Nolasco, porém, chama a atenção para o faturamento real de bens de consumo duráveis, que no mesmo período registrou um crescimento vertiginoso de praticamente 64% em agosto e de 71% em setembro (ver tabela).
Por isso, mesmo reconhecendo que as medidas de restrição ao crédito são dolorosas para bancos e indústrias dos setores automobilístico e eletroeletrônico, Nolasco acha que elas estão corretas do ponto de vista macroeconômico.
``Se o plano está sendo doloroso, é sinal de que ele está produzindo efeitos", admite Walter Kuroda, diretor de planejamento do Banco Nacional, que também descarta a recessão no curto prazo.
O bloqueio no crédito deverá, segundo Nolasco, reduzir pela metade a expansão do consumo que vinha ocorrendo desde agosto.
Isso significa reduzir de 30% para 15% o aumento estimado para o segundo semestre de 94, em relação ao mesmo período de 93.
``Haverá uma realocação nos gastos do consumidor. Quem ficou impedido de comprar TV vai comprar rádio", exemplifica Nolasco.
A redução nas vendas de carros e eletrodomésticos, que dependem de mecanismos de crédito com prazos mais longos, prevê Nolasco, terá como contrapartida um aumento no consumo de alimentos, vestuário, calçados e outros produtos de menor valor.
Análise no mesmo sentido foi feita pelo economista Carlos Antonio Rocca, presidente do Conselho de Administração do Mappin, na quarta-feira passada.
O economista-chefe da Brasilpar lembra que a expansão do consumo após a entrada do real foi impulsionada basicamente por quatro fatores:
1- fim do ``imposto inflacionário" que corroía a renda das camadas mais pobres da população;
2- maior confiança na manutenção do emprego –ou diminuição do medo do desemprego– com a estabilização da economia;
3- crescimento real da massa salarial. Os indicadores da Fiesp mostram que o total de salários reais na indústria paulista aumentou 3,3% e 7,8%, respectivamente, em agosto e setembro últimos;
4- reativação do crédito ao consumidor com prazos mais longos.
``O governo só mexeu no quarto fator, o sistema de crédito", observa Nolasco, destacando que o alvo das medidas foi o crescimento explosivo das vendas, movidas pelo crediário e pelos consórcios, de bens duráveis e de ``carros populares".

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