São Paulo, segunda-feira, 31 de outubro de 1994
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Itamar e Nilo tentam evitar intervenção

DAS SUCURSAIS DO RIO E DE BRASÍLIA

O presidente Itamar Franco e o governador do Rio de Janeiro, Nilo Batista, decidem hoje de que forma o governo federal poderá ajudar o governo estadual a combater a violência naquele Estado.
Os dois se encontram às 16h, quando o governador apresentará uma lista de oito propostas para que a ação do governo federal seja ao mesmo tempo eficaz e não intervencionista. Evitar a intervenção federal é uma preocupação tanto de Nilo quanto de Itamar.
No final da manhã o presidente receberá um grupo de representantes da seção Rio da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) (leia texto abaixo).
O governador Nilo Batista deverá viajar do Rio para Brasília acompanhado pelo embaixador do Brasil em Portugal, José Aparecido. O embaixador foi enviado por Itamar ao Rio com a missão de traçar um quadro das opiniões sobre as possibilidades para uma ação federal.
Para isso, José Aparecido esteve visitou o governador e outras lideranças da sociedade civil organizada, como o presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Barbosa Lima Sobrinho, e com o cardeal-arcebispo do Rio, d. Eugênio Sales.
Para o encontro de hoje com Itamar, Nilo Batista vai levar documentos e estatísticas para mostrar a ação do governo estadual no combate à violência.
Na avaliação de Nilo, nenhum Estado fez tanto quanto o Rio no combate à violência, com prisão de mais de 200 policiais envolvidos em denúncias de corrupção e extermínio e apreensão de mais de 20 mil armas.
Na avaliação das autoridades de segurança do Rio, a atenção que passou a ser dispensada ao assunto pelo governo federal será importante para atacar as principais alavancas do crime organizado: o contrabando de armas e o tráfico de drogas.
O combate a essas duas modalidades de crime é de responsabilidade do governo federal, principalmente através da Polícia Federal, que também deverá integrar a ação conjunta.
Nilo pretende dizer a Itamar que a adoção do estado de defesa no Rio seria um exagero e abriria caminho para agravar as violações dos direitos humanos e constitucionais, basicamente nas comunidades mais carentes.
O governador do Rio quer deixar o presidente da República à vontade para escolher um integrante das Forças Armadas para comandar a ação conjunta no Rio.
Para Nilo, não há como montar uma estratégia de atuação conjunta entre policiais do Estado e o Exército sem que a autoridade no maior escalão hierárquico –o Comando Militar do Leste– fique no comando das ações.
A única advertência que Nilo deverá fazer a Itamar é a de que a ação das Forças Armadas não seja feita de modo a influir no segundo turno das eleições para o governo.
Anthony Garotinho, do PDT de Nilo, enfrenta o tucano Marcello Alencar, que tem defendido a decretação do estado de defesa e feito da violência a principal propaganda contra o PDT.
O procurador-geral da República, Aristides Junqueira, disse ontem em Fortaleza que a eventual intervenção do Exército não acabará com a violência no Rio.
Junqueira disse que apesar de reconhecer a intervenção do Exército como uma ``solução constitucional" não acredita que ela vá diminuir a criminalidade no Rio.
``Ações esporádicas de força não resolverão os problemas do Rio. É preciso que o Estado chegue lá com todas as suas instituições e não apenas com as armas."

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