São Paulo, segunda-feira, 31 de outubro de 1994 |
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Indústria descobre a baixa renda
NELSON BLECHER
``As vendas de eletrodomésticos, desde julho, foram muito superiores nas lojas da periferia", constata Felippe Arno, presidente da Arno, tradicional fabricante do setor. ``O mercado brasileiro sempre foi C e D", acrescenta, ao se referir às famílias situadas na base da pirâmide de renda. O empresário afirma que modelos sem centrifugação, que custam cerca de R$ 100, já representariam entre 70% e 80% da comercialização de máquinas de lavar, também produzidas pela Arno. O ``boom" que esvaziou as prateleiras das lojas dos subúrbios, interrompido temporariamente pelas medidas de restrição ao crédito, foi um ensaio do que poderá ocorrer se o programa de estabilização for bem-sucedido. Indústrias do ramo eletroeletrônico, como a Gradiente, planejam uma ofensiva de lançamentos com design e preços compatíveis para atingir esse segmento a partir de 1996, conforme apurou a Folha. Tome-se, como exemplo, as máquinas de lavar roupa. As consultorias Gouvêa de Souza e Interscience vêm alertando a indústria, desde o final da década de 80, sobre o ``forte desejo" de compra em relação a esse item por parte dos consumidores de baixa renda. Modelos acessíveis, os ``tanquinhos" decolaram nos anos seguintes. Era previsível que, sem a corrosão inflacionária, também aumentasse a venda de alimentos industrializados em supermercados da periferia, como ocorreu no bimestre passado. ``A renda disponível para o consumo de alimentícios é sempre mais elevada na classe de baixa renda", afirma estudo comparativo conduzido pelas consultorias Gouvêa de Sousa e Interscience. Também em relação a outras categorias de produtos –aparelho de TV, bicicleta e geladeira– sucede fenômeno semelhante: embora a renda dos consumidores de baixo poder aquisitivo seja inferior, o consumo em valores globais supera o da classe média. A renda global disponível para a aquisição de aparelhos de TV e geladeiras entre os consumidores da classe C representa o dobro, em relação à da classe média. Para o sociólogo Paulo Secches, diretor da Interscience, empreendimentos e produtos voltados para esse público consolidaram parâmetros que devem atrair outras empresas. ``Arisco, Avon, SBT, Plano 100 são casos emblemáticos", diz. Pesquisa recente da Interscience mostrou que acima de 90% desses consumidores são exigentes com a indústria e o comércio. Eram apenas 40% em 1986. Próximo Texto: Consumidor pesquisa Índice |
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