São Paulo, segunda-feira, 31 de outubro de 1994
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Marcelinho está acima dos canhoneiros

ALBERTO HELENA
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Esse Marcelinho é mesmo o cão. Com exceção de Grané, beque corintiano dos anos 20, cuja lenda reza ter matado com um chute fatal o goleiro Lara, e do folclórico Perácio, que a história registra ter sido o único ser humano a vislumbrar a linha do Equador, a bordo do navio que levava a seleção brasileira à Copa da França, em 38, creio ter visto todos os maiores canhões do nosso futebol em ação. Desde Jair Rosa Pinto a Neto, passando por Pepe, Nelinho, Éder e até mesmo os mais esquecidos, tipo Beiço, zagueirão luso especialista em marcar gols de falta do meio-campo, ou Lula, de breve e fulgurante passagem pelo Parque Antarctica, nos 40.
Marcelinho se inscreve, porém, numa categoria à parte na galeria dos canhoneiros de estirpe do futebol brasileiro, pois esse menino é capaz não só de disparar um petardo de fora da área, com a bola correndo, no ângulo, como no primeiro gol de sábado contra o Paysandu, como instilar um doce e suave veneno na bola ali parada, morna, insossa, numa cobrança de falta.
Se for para o pau da bandeirinha, então, não importa o lado, é meio gol. Partindo da velocidade zero ou em plena disparada, seus cruzamentos evitam as cabeças inimigas e buscam, como imantados, o coco do companheiro melhor colocado na área. Além do mais, faz suas firulas, diverte a galera, irrita o adversário com dribles desconcertantes. Mas não é um individualista. Joga para o time e é uma opção tática rara para qualquer treinador, pois tanto faz jogar aberto ou enfiado pelo meio, quanto armar e combater aqui atrás, no meio-campo.
Em suma, é uma preciosidade, talvez, no momento, o melhor jogador em ação no futebol brasileiro.
Claro que o Corinthians não está nesta posição privilegiada no Campeonato Brasileiro apenas pelo talento de Marcelinho. Vários são os fatores, a começar pelo técnico, Jair Pereira, pragmático e tocado pela estrela da sorte. Depois, tem o acerto nas contratações: um grupo de veteranos lá atrás protegendo um goleiraço e amparando uma garotada de primeira linha, como Zé Elias, Souza, Marques e o xodó da torcida, Viola. A respaldá-los, no banco, um coração corintiano de milhões de batidas mas sempre jovem, embora mais equilibrado: Casagrande.
Que mais se pode exigir de um time? O título, claro, dirá o insaciável alvinegro. Quem sabe? Mas esse já é outro departamento.

Na sexta-feira, o tricolor pegou o Flamengo, com o time reserva, cheio de ousadia: Vítor improvisado na cabeça-de-área, um meia-armador (Pereira), um ponta-de-lança (Juninho) e três atacantes típicos (Catê, Caio e Toninho). Resultado: 3 a 0, fora o baile. Ontem, diante do Palmeiras, o São Paulo voltou a ser o mesmo da Libertadores e da Supercopa: três volantes, um meia e dois avantes. O primeiro tempo terminou 1 a 0 para o Palmeiras, gol de Edmundo.
No segundo, a entrada de Juninho, a virada tricolor, o empate palmeirense, com Edmundo impedido, e o quebra-pau que manchou um belo jogo, onde o Palmeiras foi melhor, mas o São Paulo foi mais objetivo.

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