São Paulo, segunda-feira, 31 de outubro de 1994
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Vista o seu fraque e vá para o estádio

Vamos torcer, mas dentro de casa
MARCELO FROMER e NANDO REIS

MARCELO FROMER; NANDO REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Como temos a sexta-feira como data-limite para a entrega do nosso artigo, os acontecimentos do fim-de-semana acabam passando ao largo do assunto que recheia as linhas dessa coluna. Mas se há algumas coisas que são previsíveis nesse mundo uma delas é que no futebol brasileiro as providências nunca chegam a tempo.
Como que dotado de um sombrio senso premonitório, no final do artigo da semana passada trombeteávamos, com alguma obviedade até, um bordão que parecia por demais exagerado, mas que se faz necessário reprisar e ressaltar: ``torcedor, proteja a si mesmo, não vá ao estádio".
Lamentavelmente, o noticiário que ocupou as páginas recentes não mais do caderno esportivo e sim já resvalando nas páginas de caráter policial, nos trouxeram mais uma onda no vagalhão de violência que assola os estádios.
Mais uma vítima, mais um torcedor teve sua vida ceifada durante o encontro de duas torcidas rivais após o jogo do Maracanã no sábado retrasado.
Anteontem, dois rapazes foram barbarizados na sede da Mancha Verde, em Santo André, quando tentavam comprar ingressos para o clássico de ontem.
Terrível esse novo hábito de apenas esperar o término de uma nova rodada para não só conferir o placar e a tabela, como também checar o saldo das vítimas no obituário.
Sugerimos o boicote puro e simples. O esvaziamento das arquibancadas seria a melhor resposta para o descaso e a negligência com que essas atrocidades recentes têm sido tratadas. Paradoxalmente ao substantivo aumento de emoções proporcionado pela complexa engenharia da organização desse campeonato de difícil compreensão, de maneira inversa a isso responderíamos com a ausência.
Torceremos sim, mas cada um com seu rádio, cada um com seu filho embandeirado, mas dentro de casa. Vamos deixar de pagar com dinheiro ou até com a própria vida o preço de um mísero ingresso.
Senão vamos começar a trocar os pés pelas mãos, como fez o roliço Rolim em sua simpática aparição no `Apito Final' da semana que passou. No esforço gentil para a solução desse difícil impasse, o comandante da TAM sugeriu que houvesse um significativo aumento no preço do ingresso para assim melhor selecionar o público que vai aos estádios.
Estaria ele, como grande empresário que é, pensando a longo prazo? Com tal majoração de ingressos, só refinados milionários assistiriam aos jogos e talvez ele quisesse também sugerir a construção de uma pequena pista de pouso ao lado do Morumbi para que esse público aristocrático pudesse estacionar suas aeronaves e adentrar ao campo sem sujar as polainas.

Quem foi o gênio que inventou o formato e as regras do Campeonato Brasileiro de 94?
Resposta: ``Foi o próprio presidente da CBF, durante o porre que tomou na comemoração do tetracampeonato, com o aval de seu tio briguento."
(Reginaldo Payá, Sud Mennucci, São Paulo)
Marcelo Fromer e Nando Reis são músicos da banda Titã

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